Pesquisadores afirmam que o animal pode ser extinto em 2022.
Um dos maiores símbolos do nordeste brasileiro corre o risco de não existir. Não, não é exagero; é uma possibilidade real. Tanto que pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) e o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia, prevêem que os animais possam desaparecer já em 2022.
De acordo com um levantamento do Ministério da Agricultura, mais de 5 mil animais foram abatidos apenas no estado baiano no mês de abril deste ano. Dados do governo mostram que de 1995 a 2017, o número de jumentos no estado da Bahia – que sozinho reúne 90% desta população, caiu de 300 mil para 93 mil, uma redução de quase 70%.
Por que isso está acontecendo?
A explicação está no abate para venda da pele do jumento que tem como destino Portugal, Espanha, China e Itália. Ela é um dos compostos principais na produção do ejiao, uma gelatina da medicina tradicional chinesa usada para tratar problemas de saúde como insônia, tosse seca e problemas de coagulação sanguínea. Além dos deles, são exportadas também a pele e couro de cavalos e mulas.
Entre 2002 e 2010, foram exportadas, em média, 7.354 toneladas desses materiais por ano, a maior parte para atender à demanda de países europeus pela carne e couro de cavalos, mas uma proibição da União Europeia fez a média diminuir para 18,3 toneladas anuais entre 2011 e 2020.
Oficialmente, apenas na Bahia foram registrados 84.112 abates legais de jumentos entre 2017 e 2019. Porém, pesquisadores apontam que o número real efetivamente é maior, em função dos abates ilegais com os animais sendo capturados em estradas ou comprados por até 30 reais. A ONG The Donkey Sanctuary calcula que, em 2021, 64 mil jumentos serão abatidos no Brasil e, considerando as perdas, o número de animais mortos pode chegar a 76.800. De acordo com o último censo do IBGE, em 2017, a população brasileira de jumentos é de 376.874 animais, número que não inclui os animais abandonados – muito inferior, por exemplo, ao número de cabeças de gado bovino, que ultrapassam os 200 milhões. Mantido o ritmo atual de abate, a existência da espécie está ameaçada, pois a taxa de reprodução dos animais não acontece na mesma velocidade.
Um dos motivos pelos quais o jumento é muito procurado está no baixo preço cobrado pela venda. A questão é que não há uma taxa de reprodução alta desses animais, o que impede que haja um equilíbrio entre os abates e nascimentos. O abate de jumentos havia sido proibido em 2018 após uma mobilização das organizações de proteção aos animais. No entanto, em 2019, a prática voltou a ser legalizada, com uma regulamentação que, apesar de bem intencionada, não é fiscalizada de forma eficaz.
Com o aumento da lista de animais ameaçados em extinção, precisamos acompanhar de perto o que as autoridades têm feito para melhorar essa situação.
Fontes: Jornal da USP | Hypeness | Um só Planeta