Diante do quadro atual, uma revisão dos últimos estudos sobre aquecimento global e sua relação com a biodiversidade aponta que o desaparecimento de inúmeras espécies é inevitável, principalmente na América do Sul e na Oceania.
Os últimos relatórios do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), mostram uma série de cenários para o final do século, as chamadas trajetórias de concentração representativa (RCP). Essas trajetórias representam a fusão de dióxido de carbono com o efeito estufa e seu conseqüente aumento de temperatura. Hoje, por essa medição, o índice de aumento de temperatura global mais otimista seria de 2º, mas a tendência desses números é aumentar podendo chegar a 3º ou 4º.
Esse aumento de temperatura sem dúvidas trará extinções e mudanças evolutivas nas espécies e ecossistemas. Mark Urban, biólogo da Universidade de Connecticut (EUA), afirma que no cenário mais otimista (de aumento de 2º) existiria uma extinção de 7,7% das espécies; para o mais alarmante sobe para até 15,7%, isso significa que, caso a temperatura chegue a aumentar 4º ou mais, uma em cada seis espécies do planeta teriam altas chances de desaparecer.
Como mostra em seu trabalho, publicado na revista Science, Urban afirma que não há espécies mais preparadas ou mais vulneráveis diante da mudança climática. O aumento de temperaturas afeta da mesma maneira ursos polares e anfíbios que vivem em florestas tropicais. Climas secos ou úmidos, todos sofrerão com as mudanças.
Espécies endêmicas, por conta de seu número escasso e reduzida variedade genética, são ainda mais vulneráveis ao desaparecimento que fica em torno de 6% de chance, segundo dados do pesquisador. Embora esses desaparecimentos sejam um fenômeno global, certas regiões são mais suscetíveis. É o caso da América do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia. Isso é um dado preocupante, embora justificável, já que essas regiões concentram maior biodiversidade.
O especialista também aponta que “a América do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia abrigam muitas espécies com reduzida distribuição, o que implica que já possuem um habitat menor que poderia desaparecer mais facilmente”. No caso das duas últimas regiões, além disso, devido ao seu caráter insular, as espécies mais dinâmicas não poderão se deslocar a outras zonas à medida que o aquecimento altere seus ecossistemas originais.
O trabalho de Urban não consegue precisar se será ainda neste século que acontecerão a maior parte dos desaparecimentos. Mas ele aponta que o aquecimento global vem acelerando esse processo. Outro estudo publicado na Science faz um rastreamento de dados de até 23 milhões de anos atrás para tentar identificar como se deu as mudanças nos ecossistemas marinhos e tentar descobrir uma projeção para extinções no futuro. Embora seja focada na vida marinha, a pesquisa quase confirma os apontamentos de Urban e mostra que animais com uma distribuição geográfica menor são mais vulneráveis, provando que o endemismo é sim um fator de risco.
No caso do estudo focado na vida marítima mais algumas conclusões são importantes como o fato de os mamíferos correrem mais riscos do que tubarões e corais de se extinguirem. Também os mares que rodeiam Austrália e a Nova Zelândia, o Caribe e o oceano Antártico são os ecossistemas mais ameaçados.