Embora lagartos e cobras não sejam tão bem vistos no reino animal quanto elefantes e leões, eles ainda têm um propósito importante no domínio da biodiversidade. É por isso que os cientistas climáticos estão incrivelmente preocupados com um estudo recente, publicado na revista Nature, que mostra que mais de 20% dos répteis enfrentam uma potencial extinção, devido à crise climática em curso.
Répteis nas florestas, além de crocodilos e tartarugas estão em maior risco e isso se deve em grande parte à perda de habitat, causada pela extração de madeira, agricultura, urbanização e competição com espécies invasoras. Além disso, muitas dessas espécies também enfrentam a extinção por causa de seu uso comum em certas formas de medicina tradicional.
Pesquisas semelhantes também mostram que 40% dos anfíbios, 25% dos mamíferos e 13% das espécies de aves enfrentam ameaças semelhantes. E esta nova descoberta é absolutamente crucial para manter a biodiversidade geral.
“Seria uma perda devastadora. Perderíamos 15,6 bilhões de anos de história evolutiva se cada um dos 1.829 répteis ameaçados se extinguisse”, disse o cientista e coautor do estudo. “Se removermos os répteis, isso pode mudar radicalmente os ecossistemas, com efeitos colaterais infelizes, como o aumento de insetos-praga”, continuou ele. A biodiversidade, incluindo os répteis, sustenta os serviços ecossistêmicos que proporcionam um ambiente saudável para as pessoas.”, concluiu.
“Muitos deles, como o tuatara ou a tartaruga Carettochelys insculpta são como fósseis vivos, cuja perda significaria o fim não apenas de espécies que desempenham papéis únicos no ecossistema, mas também de muitos bilhões de anos de história evolutiva”, ressalta Michael Hoffmann, da Zoological Society of London, que também esteve envolvido no trabalho.
A grande maioria dos estudos sobre risco de extinção se concentra em aves e mamíferos e, até agora, não havia algo equivalente para os répteis. Com este trabalho, já é claro que alguns deles estão até mais ameaçados. Outra conclusão a que chegaram os cientistas é que os esforços para conservar animais mais conhecidos têm um efeito benéfico também na conservação dos répteis, mais do que se esperava, já que a proteção dos habitats é essencial para amortecer as ameaças que o reino animal enfrenta como um todo. Por isso, esses resultados devem agora ser canalizados para atividades de pesquisa concretas para classificar o grau de ameaça de certas espécies e daí derivar medidas de conservação direcionadas.
É um fato (comprovado inclusive pela ciência) que as espécies carismáticas recebem mais atenção e financiamento para estudos. Mas todas elas formam o nosso ecossistema e merecem a nossa atenção. Muitos répteis, inclusive, fazem parte da microfauna que faz o mundo funcionar. As cobras, lagartos e crocodilos podem não ser os seres mais fofos, mas merecem o lugar que sempre tiveram neste planeta tanto quanto qualquer outro ser vivo.
Fonte: Público | Green Matters | Isto É Dinheiro