Já imaginou uma casa construída sem tijolos? O que parece improvável é realidade para seis jovens de Curitiba proprietários de uma empresa especializada na construção de casas sustentáveis. São arquitetos e engenheiros, na casa dos 26 e 27 anos, que decidiram apostar em estruturas feitas com madeira de reflorestamento do tipo autoclavada (tratamento que garante ótima durabilidade) e isolamento térmico especial, composto por lã de vidro e até mesmo garrafas PET. Além do aspecto ambiental, as casas também são erguidas e entregues aos donos em prazos mais curtos, pois utilizam menos materiais e mão-de-obra.
“A gente consegue fazer a obra em um quarto de tempo de uma obra convencional, economizando em 80% de resíduos e a emissão de carbono, com o dobro de conforto térmico e acústico, com quatro vezes menos mão-de-obra e com uma garantia muito maior de orçamento porque a obra é toda industrializada”, relata Caio Bonatto de 26 anos, um dos sócios da empresa Tecverde.
Segundo Bonatto, foram realizadas várias pesquisas fora do Brasil até que encontrassem a tecnologia ideal para construção das casas sustentáveis. Foi na Alemanha que os sócios chegaram a um veredito sobre o que seria aplicado aqui no Brasil, logicamente, adaptando para a realidade brasileira após mais um período de análises. “Eu acho que adequar a tecnologia à cultura do brasileiro foi crucial para o sucesso”, afirma Caio Bonatto.
A casa sustentável de um padrão médio (200 metros quadrados) demora de três a quatro meses para ficar pronta. Em comparação, uma casa de alvenaria com as mesmas dimensões pode levar até 18 meses para ser entregue. Já o valor é estimado na faixa de R$360 mil.
“A casa é toda construída de uma forma industrializada e com personalização total na arquitetura. A parede é feita com uma estrutura de madeira autoclavada com isolamento térmico e acústico entre essas madeiras. Uma chapa de madeira de OSB, que é uma chapa estrutural, dá a resistência contra impactos na parede e possibilita que se fixem móveis, rede, o que se quiser na parede, igual a uma casa de tijolo. Uma película controla umidade e vapor da casa para evitar qualquer tipo de incidência de mofo ou umidade, e uma chapa de cimento faz o revestimento final. Em cima dela é possível aplicar o revestimento que quiser, igual em uma casa de alvenaria: textura, cerâmica, grafiato, pintura”.
Hoje a Tecverde trabalha com público variado, da classe baixa, média e também com maior poder aquisitivo, além de incorporadores de média e alta renda. Segundo os donos da empresa, o preço do imóvel para o cliente final é o mesmo de uma casa de alvenaria, porém para o incorporador, é 10% inferior às casas tradicionais. “Para o público de baixa renda, a gente está licenciando a tecnologia para que o próprio incorporador seja dono da sua fábrica de casas”, comenta o empresário que já licenciou a tecnologia da empresa para construção de 300 moradias dentro do programa “Minha Casa, Minha Vida” no ano de 2012 no Rio Grande do Sul.
“A gente licencia tecnologia para o construtor e implanta toda a fábrica para ele. A gente treina mão de obra do construtor, a gente faz a gestão e a cogestão junto com esse construtor de todo o empreendimento”, confirma Bonatto. Ainda segundo o empresário, a própria meta é vencer a marca de 2 mil casas dentro do programa de habitação do Governo Federal.
Trabalho reconhecido
A iVERDE, pertencente ao grupo Tecverde, recebeu o Prêmio Nacional de Inovação da Confederação Nacional da Indústria dentro da categoria “Modelo de Negócio”. A iVERDE surgiu em 2012 justamente para auxiliar no desenvolvimento de novas tecnologias que possam auxiliar o processo de construção das casas sustentáveis. “A gente montou outra empresa, trouxe uma pessoa de fora para presidir essa empresa. A gente está fazendo parcerias com institutos de tecnologia do mundo inteiro. Trazendo tecnologias para o Brasil e adaptando à nossa realidade”, explica Caio.
O próximo projeto Tecverde consiste em construções inéditas no setor, com até cinco pavimentos. “Estamos em parceria com o Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] e a Federação das Indústrias do Estado do Paraná [Fiep], que tem apoiado a gente tanto nas metodologias de inovação quanto no desenvolvimento das inovações em si. Acho bacana isso que tem acontecido no nosso estado, esse apoio que as empresas têm tido para inovação”, finaliza.