Considerado uma ameaça para a sobrevivência das comunidades locais, o deserto do Saara, que já castigou milhares de famílias, foi o local escolhido pelo arquiteto Magnus Larsson para elaborar um projeto urbano surpreendente que faz uso da biotecnologia e do material mais abundante no deserto – a areia – para criar um complexo que se estende por mais de 6 mil quilômetros do continente africano.
Enquanto ainda estava na faculdade de Oxford, o estudante de arquitetura sueco desenvolveu o projeto batizado de “Dune”, a fim de solucionar os desafios enfrentados pelos países africanos na contenção das dunas em uma das regiões mais áridas do planeta, o Sahel.
O material de composição do projeto seria a própria areia solidificada por uma bactéria, Bacilluspasteuri, para formar estruturas orgânicas de arenito inspiradas em Tafoni (formações rochosas das cavernas de Sokoto, Nigéria) que ajudariam a sustentar a vegetação proposta pelo Grande Muro Verde do Saara e ao mesmo tempo iria criar espaços habitáveis para a população que vive nas regiões próximas, fornecendo proteção contra o mau tempo, sombra e poços de coletas de água, atuando no desenvolvimento social.
Magnus desenvolveu o método de solidificação da areia depois de tomar conhecimento da pesquisa realizada por alunos da Universidade Davis, na Califórnia, sobre o uso da bactéria para solidificar solos em áreas de risco propensas á terremotos. Após as bactérias formarem as estruturas elas morreriam por falta de alimento, integrando-se á edificação sem causar prejuízos ao meio ambiente, nem ao homem.
O Dune é um projeto completo de planejamento regional, arquitetura e paisagismo que envolveria diversos setores públicos, privados e sociais. O projeto ganhou primeiro lugar do prêmio Holcim de construções sustentáveis em 2008.
Segundo Larsson, o projeto, apesar de sua incrível dimensão, teria um custo aproximado de U$$ 11 dólares o m³ de arenito, em comparação ao concreto que custa U$$ 90 dólares o m³ na região.
Embora questões técnicas de estrutura, durabilidade e execução ainda tenham que ser estudadas e detalhadas, o projeto de Magnus é sem dúvida surpreendente e quem sabe um dia venha a se tornar realidade em um futuro próximo, onde a falta de áreas produtíveis e a escassez de alimentos alertam a sociedade sobre a importância do uso consciente do solo e as possibilidades de regeneração dos desertos sejam vistas como uma oportunidade.
Os estudos do arquiteto Magnus Larsson foram realizados no vilarejo Gidan-Kiara, na região de Sokotu, na porção norte da Nigéria, onde descobriu que as dunas movem-se 600 metros ao ano em direção ao sul, obrigando as comunidades locais a migrarem constantemente.
Atualmente cerca de 70% das áreas do planeta que poderiam ser utilizadas para agricultura são desérticas, localizadas principalmente na África e China, locais que já sofrem com a falta de alimento devido ao crescimento populacional exacerbado.
As prospecções das Nações Unidas para os próximos 90 anos são de que a população mundial chegue a 10 bilhões de pessoas, o que irá demandar uma produção de alimentos 60 vezes maior. Com este cenário, ou devastamos o pouco que restam de nossas riquezas naturais, ou recuperamos os solos degradados viabilizando a produção agrícola sustentável.