O método comum de produção de carvão vegetal, no qual a lenha é carbonizada e emite grande quantidade de poluentes na atmosfera, é considerado ultrapassado por especialistas em sustentabilidade. Para mudar este cenário, em 2001, a Universidade de Viçosa, em Minas Gerais, deu início a um projeto que tornaria uma refinaria mais sustentável, ao reter mais de 200 gases poluentes durante o processo de queima das toras de madeira que dão origem ao carvão.
No projeto, os gases são tratados através de uma solução química capaz de controlar a poluição e ainda gerar energia elétrica a partir da água liberada pela madeira durante a queima. “A partir desse conceito, podemos afirmar que nasceu a refinaria ecológica de carvão”, explica Daniel Câmara Barcellos, engenheiro florestal e desenvolvedor do método.
No processo de produção do carvão vegetal, de 40% a 50% da energia gerada é perdida para a atmosfera na fumaça de carbonização que sai pelas chaminés dos fornos, esclarece Barcellos. “O processo de carbonizar a madeira convertendo-a em carvão vegetal é termoquímico e complexo. Ele varia com o tempo e tem subprodutos gasosos em composição e quantidades diferentes”, diz o engenheiro para o portal O Estado de Minas.
No método utilizado por Barcellos, antes de se transformar em carvão, a madeira libera água, que faz parte de sua constituição, depois dióxido de carbono (CO2) e aproximadamente 200 gases poluentes seguem para as chaminés projetadas para conter estes poluentes, seguindo por dutos até outro forno, onde receberá um tratamento para purificar estas substâncias. O processo já é realizado desde maio de 2013.
O objetivo do sistema é controlar 100% da poluição emitida pelos fornos de carbonização de madeira. “Antes, apenas 70% da poluição era controlada. Agora esse controle sobe para perto de 100%”, explica o engenheiro.
Como surgiu a primeira refinaria ecológica do Brasil?
Sebastião Fernandes, empresário, procurou a Universidade de Viçosa para construir uma refinaria que não prejudicasse tanto o meio ambiente e se deparou com o projeto de Barcellos, que o ajudou a dar origem a Fazenda Usina Guaxupé, a primeira refinaria ecológica do Brasil.
A intenção era construir uma usina em que os poluentes não agredissem a natureza, como no caso da produção do carvão comum que elimina gases tóxicos na vegetação e ainda prejudica a saúde dos trabalhadores. A ideia se concretizou em 2005 com a ajuda de Barcellos que já trabalhava no projeto da usina.
Vantagens do processo
Além de queimar a fumaça, a usina tem buscado créditos de carbono, medida do Protocolo de Kyoto que beneficia os países que colocarem em prática as ações da MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), que pode aumentar os lucros em 2 ou 3%.
Outro benefício da refinaria ecológica é a produção de energia elétrica. “Quando a madeira é levada ao forno, ela primeiro libera água. Nós já fazemos hoje o processo de secagem, uma tecnologia que capta o calor e transforma em eletricidade”, detalha Barcellos.
A usina ecológica foi construída com os recursos financeiros de Fernandes, que decidiu investir sozinho, por conta da burocracia da solicitação empréstimos. Todo o produto que sai da fazenda é comprado pela Dowcorning, multinacional que utiliza carvão ecológico na produção de silício metálico, utilizado na fabricação de cosméticos.