O oitavo projeto de sustentabilidade do especial Cidades Sustentáveis encontra-se em Londres, capital da Inglaterra, cidade com um pouco mais de 8 milhões de habitantes, que pretende, através da tecnologia e responsabilidade ambiental, ser um exemplo de iniciativa verde, diminuindo os impactos ao meio ambiente e ainda se preocupando com o bem estar da população. Desde 2002, a vila BedZED funciona com energia elétrica captada por painéis fotovoltaicos, uso racional de recursos naturais e com carros que não emitem poluentes prejudiciais a atmosfera.
O bairro de Sutton foi o local escolhido pelo arquiteto Bill Dunster e pela BioRegional, empresa especializada em construção civil com redução de impacto ao meio ambiente, para abrigar BedZED (Beddington Zero Energy Development), o projeto de ecobairro que tem a intenção de usar apenas fontes renováveis. Foram investidos € 17 milhões no projeto que engloba aquecimento solar, sistema de reutilização da água, climatização de ambiente interno sem uso de ar condicionado e carros elétricos.
O principal objetivo da vila sustentável é eliminar as emissões de carbono e de intensificar o uso de tecnologias baseadas em eficiência energética, por isso toda a energia consumida é produzida dentro do empreendimento, o que faz o projeto atender aos padrões sustentáveis. Em 2007, por exemplo, a média de consumo de energia elétrica em BedZED foi de 3,4 kWh/dia para cada pessoa, o que representa um consumo 38% inferior ao consumo médio de Sutton, que é de 5,5 kWh/dia por morador.
De acordo com Joanna Cook, gerente de energia da BioRegional, “os prédios foram construídos para reduzirem a demanda de energia elétrica em 99%”. Isso também é possível graças aos apartamentos que foram projetados com portas e janelas de vidros que permitem grande entrada de luminosidade para clarear boa parte dos ambientes durante o dia. Assim a luz elétrica é acionada somente à noite.
Gestão do bairro
O governo britânico subsidiou ¼ dos 100 apartamentos da vila com desconto na compra para os social workers, profissionais que podem ajudar a comunidade com eventuais questões do cotidiano, como professores, médicos, bombeiros e especialistas em sustentabilidade. Os outros ¼ de apartamentos foram destinados a moradores com baixa renda.
Os habitantes de BedZed se organizam com a coleta seletiva e realizam a separação dos materiais recicláveis dentro dos apartamentos. Cerca de 60% dos resíduos sólidos passam pelo processo de reciclagem depois.
Climatização
A climatização dos ambientes é feita por tecnologia double glass (duplo vidro). A varanda dos apartamentos construída na vila foi planejada para receber luz do sol através das extensas janelas de vidro. Além disso, as portas entre a sala e a varanda também são de vidro. Dessa forma, o calor fica retido no ambiente – devido ao vidro ser um material impermeável – e aquece o local. De acordo com o projeto, a redução de energia é de 81% em relação ao aquecimento. Para Marianne Hasmussen, moradora da vila, este sistema reduz em grande parte a conta de energia ao final do mês.
Para os dias de calor, os apartamentos foram planejados com ventilação passiva: as janelas dos quartos, sala e cozinha permitem a ventilação cruzada da casa, isto é, torna possível que grande fluxo de ar passe pelo apartamento e evite o uso de ventilação mecânica.
Transporte evita emissão de gases tóxicos
O conceito de coletividade está presente nos hábitos dos moradores. Para evitar que cada pessoa tenha um carro e assim emita mais gás carbônico, a vila conta com o Clube do Carro, sistema de aluguel de veículos entre os habitantes de Bedzed que precisarem percorrer distâncias maiores.
Lá no ecobairro até os carros são sustentáveis. Todos os veículos são elétricos e a bateria é carregada com a própria energia elétrica produzida pelos painéis solares dos apartamentos.
Outra alternativa dentro do bairro é a locomoção que pode ser feita por bicicletas. O transporte, além de mais rentável não gera poluentes e ainda contribui para hábitos saudáveis entre os moradores com a prática de esporte.
Reutilização da água
A água da chuva é levada por canos até pequenos reservatórios. De lá a água serve para irrigação dos jardins plantados na área externa dos apartamentos. A mesma água da chuva também é direcionada para as descargas, diferente das moradias tradicionais que não reutilizam o recurso natural.
Falhas no projeto
Os edifícios foram vendidos aos primeiros moradores como um espaço que combinava conforto, sustentabilidade e design de encher os olhos, exceto eficiência das tecnologias. De acordo com a reportagem do The Guardian em 2006, quatro anos depois da inauguração da vila, foi possível ver que nem tudo andava bem no ecobairro londrino. O sistema que filtrava a água do esgoto estava fora de operação há sete meses porque a empresa contratada para supervisionar o serviço, a Bio Regional, não contratou outra operadora.
Os painéis fotovoltaicos não atingiram a capacidade máxima para aquecimento da água. Ao jornal britânico The Guardian, Sue Riddlestone, diretora da BioRegional e moradora da vila, admitiu que há problemas. “Com projetos como BedZed, nos quais são pioneiros e a frente de seu tempo, não é incomum para as partes que isso não funcione tão bem”, ela diz.
O ecobairro é um exemplo na teoria de como a presença de métodos de eficiência energética e preservação de recursos naturais causam menos impacto ao meio ambiente. Porém, foi constatado que para gerenciar um empreendimento deste porte pode custar mais caro do que apenas construí-lo visto os custos das tecnologias específicas. Ainda assim, projetos como estes são tendência para cidades e países que se comprometem com a responsabilidade ambiental.