Não é de hoje que a estrita relação entre tradições regionais e o meio ambiente é tensa. Em muitos países, inclusive, a exploração e maltrato de animais é sustentada como um hábito cultural praticado por grande parte da população local. É o caso das típicas touradas na Espanha ou dos festivais de carne de cachorro na China, por exemplo.
No Brasil, mais especificamente na região nordeste do país, um evento de mais de 100 anos de existência tem provocado uma série de debates calorosos entre seus praticantes e defensores dos animais. Isto porque, ano após ano, centenas de animais são submetidos a ferimentos e condições de cativeiro, além da perda do contato com seus habitats naturais.
A “Vaquejada”, como foi batizada, é uma atividade criada pelos vaqueiros entre os séculos XVII e XVIII, com o objetivo de fazer a separação de boiadas de diferentes fazendeiros que se misturavam nos pastos. Durante o processo, alguns animais se rebelavam, tornando-o muito mais trabalhoso.
Para conseguir separá-los, era necessário puxar os animais pelos rabos, dando início a uma prática que mais tarde se tornaria tradicional entre os vaqueiros. Com o tempo, os vaqueiros que realizavam este tipo de “serviço” se popularizaram e derrubar o boi pelo rabo acabou virando um esporte bastante conhecido entre os nordestinos.
Qual o futuro da vaquejada?
Ao longo das últimas semanas, o tema voltou à pauta. No dia 06 de outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a anulação de uma lei estadual do Ceará que regulamentava a prática da vaquejada, após considerá-la inconstitucional. Para os defensores dos animais, a decisão é uma vitória de extrema importância, já que, só no território cearense, mais de 700 provas acontecem todos os anos.
Por outro lado, os apoiadores do esporte defendem a ideia de que a modalidade movimenta a economia da região, gerando empregos para a população e atraindo turistas. Para se ter uma ideia, de acordo com a ABVAQ (Associação Brasileiras de Vaquejada), entre 2014 e 2015 foram movimentados cerca de 600 milhões de reais, além de aproximadamente 700 mil empregos mantidos em prol da festividade.
A associação confirma ainda que o público do espetáculo bate o expressivo número de 650 milhões de pessoas por temporada.
O problema de toda a situação está no processo de aprovação da lei para novos estados, uma vez que se mantém a cautela a respeito da fiscalização e garantia de que as autoridades consigam coibir eventos clandestinos da vaquejada.
O procurador da República Alessander Sales, em entrevista para o Jornal Nacional, enfatizou que “a partir de agora, qualquer vaquejada é crime ambiental, e o aparato policial deve reprimir essa conduta, inclusive com prisões em flagrante”.
Para saber mais informações sobre o evento, confira o regulamento da ABVAQ.