Foi publicado nas revistas cientificas, “Nature Geoscience” e “Nature Climate Change”, estudos realizados por cientistas de diversas partes do mundo mostrando que em 2013, as emissões de CO2 na atmosfera bateram novo recorde. As atividades humanas emitiram 36,1 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2) em 2013, ou seja, alta de 2,3% em relação a 2012. Os maiores emissores são a China e os Estados Unidos. O estudo foi elaborado pelo projeto Carbono Global (¹).

As emissões são hoje quase 40% superiores às de 1990 – o ano de referência do Protocolo de Quioto. Desde 2000, elas aumentaram a uma taxa anual média de 3%.

O dióxido de carbono é o principal gás responsável pela elevação da temperatura do planeta, e os países que mais emitem gases contaminantes (China, EUA e Índia) aumentaram muito suas emissões em 2013. A Índia aumentou em 5,1%, a China 4,2% e os Estados Unidos, 2,9%. As previsões para os próximos anos não são nada animadoras. Para 2014, a previsão é que as emissões aumentem em 2,5%, e seguirá aumentando nos próximos anos, a ponto de preverem que em 30 anos, o planeta estará 1,1ºC mais quente que agora.

O painel do clima da ONU depois de intensas pesquisas e estudos considera extremamente provável que o homem seja o responsável pelo aquecimento global. Acordos e protocolos internacionais foram assinados e a cada ano, as emissões aumentam em vez de diminuir. Os fenômenos climáticos se intensificam, perdas econômicas, ambientais e humanas acontecem em virtude destes fenômenos, e a humanidade não consegue administrar um problema de solução clara – diminuição dos níveis de emissão de CO2 na atmosfera.

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Os cientistas apontam um cenário sombrio se não conseguirmos reverter a situação. Impactos na agricultura agravando a crise de alimento, degelo das calotas polares, aumento do nível do mar, deixando em uma perigosa situação de risco as nações que ficam em áreas baixas do litoral do Pacífico, e milhões de refugiados ambientais, entre outras previsões nada agradáveis. A mudança climática está sendo entendida como um crime coletivo contra a Humanidade.

A ONU quer reduzir o aquecimento global em 2ºC em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial, que, segundo os cientistas, é o nível mínimo para estabilizar o clima.

Economia de baixo carbono é possível

Paul Krugman, colunista do jornal NYT e economista vencedor do prêmio Nobel de economia em 2008 diz em artigo publicado recentemente que salvar o planeta do aquecimento global é economicamente viável. Segundo ele, uma estratégia bem pensada de controle de emissões, particularmente uma que cubra o preço do carbono – impostos sobre as emissões ou esquema cap-and-trade (²)-, custaria muito menos do que se imagina.

Além disto, Krugman destaca os significativos progressos da energia renovável, em especial a energia solar que teve redução de custo progressiva – praticamente caiu pela metade se comparado com os custos de 2010. Segundo ele, um dos documentos do FMI (Fundo Monetário Internacional) aponta “co-beneficios” na taxação do carbono, ou seja, teríamos efeitos positivos para além da redução dos riscos climáticos, entre eles, a saúde pública. A queima de carvão provoca muitas doenças respiratórias, que fazem subir os custos médicos e reduzem a produtividade.

Foto: © Depositphotos.com / lifeonwhite Shanghai.

Na China, turistas usam máscaras para visitar cidades, e pelo menos uma pessoa já processou o governo pela falta de controle da poluição atmosférica. Li Guixin, morador de Shijiazhuang, capital da província de Hebei, apresentou a sua queixa a um tribunal distrital, pedindo ao Gabinete Municipal de Proteção Ambiental da cidade para “cumprir o seu dever de controlar a poluição do ar de acordo com a lei”. Ele também está buscando compensação para os residentes do local que se tornaram vitimas da poluição sufocante que tomou conta de Shijiazhuang, e grande parte do norte da China no ultimo inverno.

O documento de estudo do FMI concluiu que mesmo sem um acordo internacional, há amplas razões (econômicas, sociais e ambientais) para se tomar medidas contra a ameaça climática. Krugman afirma que os que defendem a incompatibilidade entre crescimento econômico e a ação climática estão equivocados. Diz com todas as letras que é possível baixar as emissões sem colocar em risco o crescimento econômico.

Para vencer os desafios das mudanças climáticas precisamos agir já

Já temos dados mais do que suficiente para comprovar a urgência do desafio climático. Precisamos de uma estratégia de convencimento imediato.

Em 21 de setembro de 2014, ativistas do mundo todo se mobilizaram na caminhada pelo clima, exigindo investimentos em energia limpa e renovável e atitudes imediatas para combater os efeitos das mudanças climáticas. No total, foram 2.808 eventos em 166 países, entre eles mobilizações simultâneas em Nova York, Londres, Paris, Berlim, Rio de Janeiro, Istambul, Bogotá, entre outras capitais.

A manifestação ocorreu um dia antes da abertura da Cúpula do Clima das Nações Unidas, em Nova York, com a participação de mais de 120 chefes de Estado e de Governo. A demora por reação dos chefes de estados e de governo para enfrentar este comprovado desafio global de extrema urgência e potência causa perplexidade.

O que falta acontecer?

Diante dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), dos fenômenos climáticos que se intensificam, dos documentos de estudos do FMI, dos estudos de ONGs sérias, dos fundamentos de argumentação do economista prêmio Nobel 2008, e dos apelos de ativistas respeitados, entre eles, Al Gore, vice presidente do Estados Unidos (1993/2001) e prêmio Nobel da paz em 2007, o que mais é necessário fazer para que as lideranças políticas e econômicas, entendam que as emissões não são um bom negócio para ninguém? Como convencer a governança global que as emissões são um crime contra a humanidade? Em pleno século de valorização do conhecimento e da velocidade das informações, o que mais é necessário descobrir e divulgar para acelerar o processo de construção de uma nova consciência e cultura na sociedade? Como convencer países que a cultura de sustentabilidade será muito mais competitiva e positiva para seus povos?

O nosso futuro depende das práticas do nosso presente, é certo. E neste caso específico (mudanças climáticas/ aquecimento global), já perdemos tempo demais. Estamos em contagem regressiva para a reconfiguração de cenários, que para serem positivos dependem desesperadamente de ações concretas, firmes e imediatas, como aponta a ciência em seus relatórios e estudos publicados.

(¹). O Projeto Carbono Global foi criado em 2011 para auxiliar a comunidade científica internacional estabelecer uma base de conhecimento comum de apoio ao debate de políticas e medidas para reduzir a taxa de aumento de gases de efeito estufa na atmosfera. (Http://www.globalcarbonproject.org)

(²) Esquema cap-and-trade – Mecanismo de mercado que cria limites para as emissões de gases de um determinado setor ou grupo. Com base nos limites estabelecidos, são lançadas permissões e formas de cumprimento.