Para que o peixe componha as mais saborosas receitas é preciso, antes, limpá-lo. Os resíduos, então, são descartados no lixo, certo? Errado. Eles podem ser aproveitados nas mais variadas maneiras.
Desperdícios e resíduos do pescado chegam a representar 70% do total da produção em todo o mundo. A partir desses resíduos é possível obter óleo, farinha, concentrado e hidrolisado proteico, silagem, adubo, ração, minerais, entre outros.
O Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP (Universidade de São Paulo), em Piracicaba, desenvolveu pesquisas que buscam a sustentabilidade da cadeia produtiva, a minimização do impacto ambiental e o aumento da receita na empresa processadora.
Análises
Em uma dos estudos, o objetivo foi elaborar e caracterizar hidrolisados proteicos de cabeças de tilápia e aferir a atividade antioxidante deste coproduto. O hidrolisado proteico foi obtido por hidrólise enzimática e empregando as enzimas Neutrase (Protemax NP-800), Papaína (Brauzyn-100) e Pepsina. Os resultados apontaram que as propriedades observadas nos hidrolisados indicam que este pode ser um potencial suplemento alimentício. Além de apresentar fácil e rápida elaboração, servem como fonte rica de proteína, aditivos para conservação de alimentos e, também, na indústria farmacêutica, conforme demonstrou o estudo.
Reaproveitamento em execução
Em Santa Catarina, estado que é o maior produtor de pescado do país (cerca de 150 mil toneladas por ano), 70% desse montante era desperdiçado e não chegava ao consumidor, segundo cálculos do setor. Agora, parte dessa sobras tem sido consumida por uma indústria de processamento de resíduos, que transforma os restos dos pescados em matéria-prima para a fabricação de alimento animal, como farinha e óleo.
A coleta é resultado da sobra da filetagem realizada em peixarias e indústrias pesqueiras de todo o litoral catarinense. Após a transformação, o novo subproduto é comercializado com empresas nacionais e também para outros países, como Chile, Argentina, Taiwan, Bangladesch, Vietnam e Panamá. Já a água resultante deste processo é tratada e devolvida ao meio ambiente.
Apenas cargas que atendem os padrões de qualidade são recebidas e processadas, elas são verificadas para confirmar se estão em acordo com os controles rígidos do Ministério da Agricultura, além da apresentação do MTRS (Manifesto de Transporte de Resíduos Sólidos).
Artesanato
Partes descartadas do peixe compõem belos artesanatos. Escamas personalizam acessórios e objetos de decoração. O resíduo é recolhido em mercados públicos e, antes de serem utilizadas para o artesanato, as escamas passam por um preparo, envolvendo a lavagem com uma solução bactericida, tingimento e secagem.
Couro de tilápia, por exemplo, dá toque especial à bolsas e sapatos.
Outra forma de aproveitamento é por meio de composto usado na produção cerâmica — a hidroxiapatita —, que compõe de 30% a 70% da massa dos ossos e dentes dos animais vertebrados e, por ser rica em cálcio, é misturado ao caulim e à argila para formar a massa. Com a prática de filetagem, os ossos são descartados, geram resíduos e, em contato com a água, há a contaminação. Mas, reutilizando-os dessa maneira, é possível confeccionar potes e biojoias.