Stockphoto.com / KatarzynaBialasiewicz Invenção faz uso do calor produzido pelo processo de refrigeração.

O século XXI está sendo palco de uma verdadeira revolução ambiental. As pessoas, a mídia, indústrias e governos, todos estão mais conscientes sobre o papel da sociedade junto à natureza e como é importante criar novas alternativas, produtos e soluções que promovam a sustentabilidade e garantam um mundo mais verde para as próximas gerações. Aqui no Brasil, não é diferente… Iniciativas surgem quase que diariamente em prol do meio ambiente.

É o caso de uma nova invenção patenteada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). Trata-se de uma nova tecnologia que permite utilizar o calor criado pelo funcionamento da geladeira para o aquecimento da água da torneira da cozinha ou mesmo do chuveiro. O dispositivo, que pode ser utilizado em residências ou no comércio, foi concebido pela parceria entre o professor José Roberto Simões Moreira e o aluno Lucas Zuzarte.

“Basicamente, o sistema que desenvolvemos capta o calor que é naturalmente produzido no processo de refrigeração”, resume o professor que também é coordenador do Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos (SISEA) do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli, em notícia no site da universidade.

Descubra como é o funcionamento do dispositivo

Primeiramente é fundamental sabermos que a geladeira só consegue refrigerar o interior graças a um gás refrigerante que circula por sua estrutura. Este gás é aspirado e comprimido para elevar sua pressão e temperatura durante sua passagem pelo condensador da geladeira, normalmente localizado na parte de trás. Quem aqui nunca reparou que esta região, semelhante a uma serpentina, é bem quente?

“O que fizemos foi aproveitar a energia térmica gerada no processo de compressão, que atinge cerca de 60°C. Inserimos um tanque de água entre o compressor e o condensador permitindo, assim, que o calor do gás quente fosse transferido para a água em vez de ser dissipado para o ambiente em que se encontra a geladeira”, acrescenta o professor, ressaltando que todo o projeto levou meses até se chegar ao protótipo final.

Economia garantida

Um dos grandes diferenciais do dispositivo para aquecer água com calor da geladeira é a economia garantida para a família no final do mês. De acordo com testes realizados na própria unidade de ensino, a temperatura da água de um tanque com 25 litros de água subiu 5ºC por hora e chegou a 55ºC no final do teste que utilizou uma geladeira de 565 litros. Utilizando aquecedores elétricos e o mesmo volume de água, seria preciso gastar R$ 35 por mês em energia elétrica.

“Além de garantir água quente, a instalação do equipamento melhora o desempenho da geladeira, considerando que o coeficiente de desempenho do refrigerador (COP) aumentou mais de 13% e o gasto com energia do compressor caiu entre 7% e 18%”, afirmou a dupla responsável pelo dispositivo. Já a capacidade de aquecimento, segundo o professor Simões, depende da potência da geladeira e também do tipo de funcionamento do refrigerador.

A estimativa é que um sistema de aquecimento para 25 litros de água, como no exemplo, tenha retorno financeiro (através da economia de energia) em até um ano.

Vantagem para o comércio

“Creio que para restaurantes, lojas de conveniência de postos combustíveis e outros pontos comerciais do gênero, será uma inovação muito bem-vinda, porque pode otimizar a economia de energia de fato, mas em residências sua aplicação também pode ser viabilizada”, complementa Simões sobre a eficiência do sistema em relação aos refrigeradores comerciais.

Outro diferencial é o custo de instalação. “Pode ser facilmente instalado por qualquer técnico de refrigeração que não cobraria mais do que R$ 400,00 pelo serviço, incluindo material e mão de obra, se o tanque for produzido em escala industrial”, calcula Simões. O dispositivo possui um tanque (aço inox ou outro material mais barato) e alguns tubos de PVC e cobre.

Sobre o futuro, o professor e um dos idealizadores do sistema, planeja apresentar a ideia para o mercado mais interessado. “Em princípio, a ideia é apresentar o sistema aos fabricantes de geladeiras, que teriam condições de oferecê-lo como opcional na compra do aparelho”, conclui Simões.