O agrônomo Lin Chau Ming revela que a base alimentar no mundo vem sendo restringida ano após ano. Isso porque as sementes que permitem a variedade das plantas cultivadas estão nas mãos de um número restrito de grandes empresas multinacionais. Ele conta que no Brasil, a partir dos anos 1970, as empresas nacionais que produziam sementes foram compradas por multinacionais.
“Atualmente o agricultor depende dessas empresas para obter sementes. E as que são fornecidas são menos variadas em relação às do pequeno agricultor”, lamenta Lin Chau Ming em entrevista ao Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) da Unesp. Essa restrição de variedade dificulta o estudo para novas formas de controle de doenças, obteção de tipos diferentes de nutrientes, melhoramento genético e também para maior produtividade.
De acordo com acervos do Ministério da Agricultura e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, um certo número de plantas consumidas periodicamente pelos brasileiros é mantido pelos agricultores familiares. Já a soja e o milho são produzidos por grandes produtores, e alguns deles só para exportação. “São commodities reguladas pelas multinacionais. Se não houver resistência, as sementes orgânicas podem desaparecer”, alerta Lin Chau Ming.
O especialista caminha na contramão dos transgênicos, alegando falta de variedade genética, dependência que o agricultor cria em relação às multinacionais e alto preço pago pela semente a esses grandes grupos. “Se o agricultor usa uma semente híbrida ou transgênica em uma safra, na seguinte ele é obrigado a comprar novas sementes.”
Agroecologia: busca por uma agricultura mais sustentável
Diante desse problema, o especialista pós-graduado em Botânica e em Etnobotânica defende a prática da Agroecologia. A ciência incentiva a produção de alimentos dentro dos princípios da ecologia e do meio ambiente. E para que o consumo da sociedade seja mantido e a natureza preservada para continuar provendo a base da alimentação diária das famílias brasileiras, Lin Chau Ming, que também é professor Titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP em Botucatu, coordena um projeto de Agroecologia que trabalha com sementes orgânicas.
Um deles é o Grupo Timbó de Agroecologia da FCA, formado por profissionais da área, estudiosos e alunos de biologia, agronomia, zootécnica e zoologia da faculdade. Todos trabalham para estreitar a relação entre as práticas corretas de agricultura e os próprios agricultores, valorizando o trabalho de cada um dentro do processo global. O foco está, entre outros detalhes, na possibilidade de se trabalhar a terra sem a necessidade de produtos químicos. Para tal, o Grupo Timbó procura entender o trabalho dos agricultores, suas dificuldades no dia-a-dia e, principalmente, como seus conhecimentos técnicos podem contribuir para preservação ambiental do campo.
No Mato Grosso do Sul acontece outro projeto desde 2006, entre alunos e etnias indígenas. No local a etnia Pareci produz uma variedade de milho “fofo”, da qual se extrai um tipo diferente de amido. Essa variedade de amido é alimentícia e cultural, por conta de rituais de levavam um mingau feito com esse ingrediente. “Como essa variedade de milho estava em extinção, os Pareci deixaram de fazer o ritual. E para conseguir sementes dessa variedade fizemos expedições em outras etnias. Atualmente cerca de 20 aldeias voltaram a cultivá-lo e a fazer os rituais”, conta Lin Chau Ming.
Há também outro projeto que leva a tecnologia da agroecologia para agricultores familiares, como aqueles remanescentes de quilombos na cidade de Iporanga em São Paulo. “Trabalhamos com estes agricultores desde 1997 e aos finais de semana, os estudantes vão até eles para conferir como é sua rotina. Além do aprendizado para os alunos, ocorre a troca de informações, já que levamos os conceitos de agroecologia para tentar mudar os tradicionais métodos. Já observamos mudanças significativas e a tendência é melhorar com o passar dos anos”, complementa o professor.