De acordo com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o emprego da água de esgoto tratado (efluente) na agricultura aumenta a produtividade. Durante 15 anos, o estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisa em Geoquímica e Geofísica da Litosfera testou as vantagens do uso dessa água, que contém minerais e nutrientes, como nitrogênio e fósforo, importantes no desenvolvimento das plantas.
Segundo o professor de geoquímica e ambiente da USP, Adolpho Melfi, a água usada atualmente na irrigação das lavouras pode ser substituída com segurança pelo efluente, o que pouparia água potável importante no abastecimento das cidades. “A agricultura utiliza praticamente 70% da água que poderia ser para o consumo humano”, disse Melfi à Agência Brasil. Atualmente, por não haver legislação que autorize o seu uso no campo, o efluente só pode ser usado na lavagem de ruas e irrigação de jardins.
As cidades de Lins e Piracicaba, no interior de São Paulo, receberam o experimento e mostraram que a economia no uso de fertilizantes nitrogenados chegou a 80% no plantio de capim, utilizado na alimentação do gado, durante um ano de baixa ocorrência de chuvas.
Durante o experimento, o capim foi irrigado com água comum e outro com esgoto tratado. Ambos receberam a mesma quantidade de fertilizante necessário para o crescimento das plantas. O resultado foi uma produtividade de 33 toneladas de capim por hectare ao ano no caso das plantas que receberam irrigação comum, e de 39 toneladas por hectare ao ano no capim irrigado com efluente.
Apesar dessa boa produtividade, Melfi explica que essa técnica precisa de atenção. “Como o efluente tem muito nitrogênio, uma parte não será aproveitada pela planta, infiltrando o solo e contaminando o lençol freático na forma de nitrato. Há também os organismos patogênicos presentes no efluente, que podem provocar problemas na saúde humana. A gente precisa ter um controle muito grande também dos metais pesados”, conta.
Uma alternativa para evitar estes metais, presentes nos dejetos de indústrias, é recolher os efluentes preferencialmente de cidades pequenas, onde o controle é mais fácil e predomina o esgoto doméstico.
O cientista ressalta que no esgoto doméstico não há a presença de metal pesado, porém em cidades pode haver outras substâncias: “Em Lins o esgoto é exclusivamente doméstico. Em Franca, por exemplo, com a indústria de couro para a fabricação de sapatos, a curtição do couro usa uma substância formada por cromo, altamente tóxico. Mas o esgoto de lá pode ser usado, porque existem duas redes separadas, uma que é esgoto industrial e outra que é doméstico”.
Vale lembrar que o simples despejo do efluente em rios também gera problemas. “Ele aumenta a presença de algas que consumem o oxigênio, resultando na eutrofização da água, que são aquelas espumas. A água também pode ficar esverdeada por causa dessas algas”, disse Melfi.
Para avaliar a novidade, o estudo ouviu a população. Segundo Adolpho Melfi, o resultado foi positivo e as pessoas entrevistadas disseram que, desde que soubessem que estava havendo o controle adequado, consumiriam os alimentos produzidos com efluentes.