A Eu Visto o Bem é uma empresa que produz roupas e acessórios com matéria-prima 100% reciclada de garrafas pet e aparas de algodão. Mas a contribuição da marca não para por aí: toda a força de trabalho do movimento é composta por mulheres encarceradas no sistema prisional (presídio de Santana e da Penitenciária Feminina da Capital) ou por egressas, que encontram no trabalho uma nova oportunidade de recomeçarem suas vidas.
O movimento foi iniciado por Roberta Negrini que, após construir uma carreira de sucesso como executiva de grandes empresas, já não identificava mais seus valores no mundo corporativo, o que a fez iniciar sua jornada como empreendedora.
Vale destacar que, além de utilizar materiais reciclados, a marca tem política de lixo zero: todo desenvolvimento de produtos é feito com o maior aproveitamento possível de tecidos e as sobras são direcionadas para desfibragem para então serem reaproveitadas como matéria-prima para enchimentos, mantas, cobertores e muito mais.
Como tudo começou
Em 2013, já fora do mundo corporativo, Roberta iniciou seus estudos no mercado da moda. Na época, lhe chamou a atenção os impactos ambientais e sociais da indústria. “É uma cadeia muito injusta – onde se vende uma peça por R$ 5 mil ao mesmo tempo em que se paga R$ 2 para quem trabalha”, contou em entrevista ao portal Terra.
Assim, em 2014, visando equilibrar lucro e impacto social, fundou a Joaquina Brasil, marca que só trabalhava com resíduos de tecidos e chegou a ter cinco lojas, algumas localizadas em shoppings.
Na época, Roberta sentia necessidade de ampliar o seu trabalho, por isso, buscou uma oficina no Brás, na região central de São Paulo, para entender como poderia aumentar a escala de sua produção. Foi quando conheceu uma oficina em que mulheres trabalhavam de 10 a 12 horas sob condições precárias, com seus filhos amarrados aos pés das máquinas de costura. Isso a fez desistir de investir em negócios com aquele perfil.
Pouco tempo depois, ela conheceu o projeto social Segunda Chance, que tem como principal foco empregar ex-detentos, facilitando sua reintegração na sociedade. Lá conheceu uma egressa do sistema prisional que chorava e pedia por um emprego de carteira assinada para que pudesse reaver a guarda de seus filhos.
“Perguntei se ela sabia costurar. Ela me disse que não. Questionei se queria aprender. Ela me garantiu que sim. Saí de lá com ela e comecei a pensar em caminhos para a ressocialização dela e de outras mulheres”, afirmou.
Foi o ponto de partida para que a empresária começasse a estudar o sistema carcerário brasileiro. Logo notou que muitas mulheres estavam lá, pois não tiveram oportunidades de trabalho, engravidaram cedo, tiveram que interromper seus estudos, além de muitas terem sido abandonadas por seus companheiros.
Foi então que Roberta teve a ideia de montar seu negócio apenas com egressas do sistema prisional, porém começando o trabalho já dentro das prisões, por entender que a formação dessas profissionais poderia demorar. A ideia era transformar vidas por meio da geração de emprego.
Após estabelecer uma parceria com a Funap (Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel de Amparo ao Preso), Roberta conseguiu operar no presídio do Butantã. Desde então, foi questão de tempo até que a empresária se encontrasse mais focada na ressocialização do que nas lojas da Joaquina Brasil, que acabaram sendo fechadas. Nascia então o movimento Eu Visto o Bem.
Parcerias renomadas
A Eu Visto o Bem chamou a atenção de marcas como a Natura e Renner, que se inspiraram no propósito do projeto idealizado por Roberta e lançaram coleções especiais confeccionadas por sua equipe.
“As peças têm um impacto social verdadeiro, gerando emprego, renda e dignidade para dezenas de mulheres que buscam uma segunda chance. Isso porque são itens produzidos por mulheres que fazem parte do Movimento #EuvistoOBem. Elas estão encarceradas ou em situação de vulnerabilidade social e buscam, através do trabalho, uma forma de reintegração na sociedade”, diz a Renner em seu site.
Atualmente, a Eu Visto o Bem atua em três unidades – na Unidade Prisional Butantã, Unidade Prisional Santana e outra no Galpão São Paulo – e conta com mais de 60 colaboradoras. A marca tem um impacto positivo no meio ambiente, pois não deixa qualquer tipo de resíduo das suas produções para trás. Certamente, um grande exemplo para outros empreendedores que buscam novas oportunidades de negócio que tragam benefícios à sociedade.
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Fontes: Terra | Linkedin | | Movimento Eu Visto Bem