Diante do momento conturbado e de grandes movimentações vividas no cenário político brasileiro, os povos indígenas, assim como outras minorias, encontram bastante dificuldades em sua representação perante as decisões que movem a nação. Embasado no desenvolvimento da população brasileira, os índios sempre estiveram alocados em uma posição desfavorável a respeito dos momentos importantes e decisivos para a história do país.
No dia 19 de abril comemorou-se o Dia Nacional do Índio, oportunidade na qual Marcos Terena, um importante líder da comunidade indígena, concedeu entrevista à Agência Brasil para analisar a situação atual dos índios em relação aos fatos que tem acontecido no país e o que é preciso priorizar para o futuro.
Conhecido por sua importante contribuição na luta pelos direitos indígenas, Marcos Terena é responsável pela criação de um dos primeiros movimentos indígenas modernos do país, a União das Nações Indígenas. Foi também um dos articuladores dos direitos dos índios na Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Brasileira de 1988, além de ter idealizado os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas no último ano.
Hoje, depois de passar por grandes momentos de tensão e adversidades ao longo dos últimos anos, Terena falou sobre a enorme dificuldade existente para reconhecimento dos direitos constituídos e, mesmo assim, ainda não respeitados pelo “homem branco”.
Descaso com as questões indígenas
A entrevista começa com o líder falando sobre a inoperante evolução na qual se encontram as questões indígenas no país, isto para o governo e as políticas públicas. Ele explica que, se por um lado promoveu-se a imagem dos índios através de grandes eventos, lançamento de novos programas de interesse público e até participação de alguns integrantes do governo, o apoio pelas causas políticas ainda é precário e praticamente não acontece.
Segundo Terena, o governo encara as questões indigenistas como fatores que atrapalharam o desenvolvimento do país. Como prova disso, o líder cita a PEC 215 – que tem como objetivo tirar do Poder Executivo a exclusividade em demarcar territórios indígenas – e entende que o governo analisa as terras habitadas por tribos indígenas como espaços com potencial para desenvolvimento da nação.
A respeito do tema de demarcação de terras, Marcos é contundente e diz: “A questão das terras é sempre o ponto principal de qualquer comunidade indígena. É impossível a gente conduzir a vida dos povos indígenas se não houver a tranquilidade, a paz nas regiões e, isso a gente só consegue com a demarcação”.
Além da preocupação com sua comunidade, é importante lembrar da importante contribuição do índio para conservação da natureza – valorizada pela maneira como os povos respeitam e se relacionam com os recursos disponíveis para sobrevivência em suas terras.
Mais estudos para os índios
Na educação, o objetivo é formular uma base que permita às crianças e adolescentes da comunidade ter acesso, desde pequeno, a um estudo de qualidade. Desta forma, os novos índios poderão desenvolver uma formação acadêmica e profissional, no mínimo, semelhante ao do jovem brasileiro que passa por todo o sistema de ensino tradicional no país. Fala-se na criação da Universidade Indígena como uma importante ferramenta para consolidação dos estudos.
Por fim, o bate-papo se desenvolve a respeito da intensa agitação que tem marcado os setores de política e economia no país e como as comunidades e tribos têm processado todas essas informações. “Nós também observamos, o Brasil todo, os povos indígenas acompanharam seja nas marchas, nas aldeias, pelas rádios ou pela televisão, assistindo à pobreza que foi a qualidade cultural e a qualidade intelectual dos deputados que votaram contra a presidente. O parlamentar eleito é despreparado. Ele não conhece as questões brasileiras”, diz o líder indígena em relação à Sessão na Câmara dos Deputados que aconteceu no dia 17 deste mês.
“Ficávamos pensando, onde nós, indígenas, vamos poder confiar em pessoas que não entendem a demanda do branco, quanto mais a demanda dos povos indígenas? Pensamos também que muitos daqueles que estavam lá receberam votos de algumas aldeias. Por outro lado, havendo essa mudança [na presidência], precisamos já começar a negociar, seja com Michel Temer, seja com Romero Jucá (PMDB-RR), que foi presidente da Funai, para mostrar que a gente não quer uma Funai pobre, uma Funai paternalista, mas uma Funai de ponta, científica, cultural, e a Universidade Indígena, com plano de ação para que a gente possa respirar um pouco melhor até a próxima eleição”, completa Marcos Terena.