Por incrível que pareça, a pecuária tem se revelado um dos vilões do aquecimento global. De acordo com o relatório “Livestock – Climate Change’s Forgotten Sector Global Public Opinion on Meat and Dairy Consumption”, produzido pelo think tank britânico Chatham House, a atividade responde por quase 15% das emissões mundiais de gases do efeito estufa, volume superior às emissões dos Estados Unidos (EUA).
Apesar da importância da pecuária na geração de renda mundial, segundo a pesquisa, o setor é o grande responsável pela emissão de gás metano (CH4), que tem 25 vezes mais potencial de aquecimento do que o dióxido de carbono (CO2), destacando-se a emissão de metano entérico pelos ruminantes.
Atualmente, os maiores consumidores de carne são China, União Europeia (UE), Estados Unidos e Brasil. Já os de produtos derivados do leite são China, Índia, UE e EUA. Vale lembrar que o rebanho bovino mundial está estimado em 1,03 bilhão de cabeças.
Calcula-se, também, que até 2050, o consumo de carnes deve aumentar 76% e o de lácteos, 65% em relação ao período 2005/2007, enquanto que o de cereais deve crescer apenas 40%.
Mas como essas emissões são possíveis?
Segundo pesquisas, os processos de formação dos gases do efeito estufa pela pecuária ocorrem em três ciclos: a digestão dos animais, a decomposição do estrume e o desmatamento.
Durante o processo digestivo dos animais ruminantes, que incluem bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos, ocorre a fermentação entérica, onde eles liberam metano por flatulências e arrotos. Em média, 6% de toda a alimentação do gado mundial é convertido em gás metano.
Quando o estrume é depositado no solo das pastagens, sua decomposição contribui para a emissão de óxido nitroso (N2O), outro potente gás que contribui para o aquecimento global.
Já com relação ao desmatamento, quando a vegetação nativa é derrubada para virar pastagem ou há degradação pela expansão de áreas de cultivo agrícola que servem para a produção de ração animal, grande quantidade de dióxido de carbono também é lançada na atmosfera.
No Brasil, por exemplo, a agropecuária foi responsável por 26,6% das emissões totais de gases do efeito estufa em 2013, segundo dados do Observatório do Clima, enquanto que a fermentação entérica tem ligação com 56,4% desse total.
Mudança de hábito
Com o argumento de atenuar o impacto da pecuária no meio ambiente, os autores do relatório sugerem uma mudança de padrão alimentar da população, reduzindo o consumo de carne e incluindo outros alimentos, como parte de uma dieta equilibrada.
Mas essa não é uma tarefa fácil, já que nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 160 quilos de carne por ano e os dois países onde essa demanda mais deve aumentar são China e Brasil.
O relatório do Chatham House denuncia que os governos não dão a devida atenção ao assunto e relutam em criar campanhas para alterar o comportamento das pessoas, o que contribui para o que os autores chamam de “gap de consciência”. Segundo eles, parte da população desconhece a relação entre a pecuária e as mudanças climáticas.
Coincidentemente, a publicação do estudo ocorreu no mesmo período em que peritos se reuniram em Lima, no Peru, para elaborar a proposta de acordo multilateral que deve ser assinado durante a Conferência do Clima, que será realizada em novembro de 2015 em Paris.
Você pode ler o relatório aqui (em inglês).