As recentes enchentes que atingem o Rio Grande do Sul são o resultado de uma combinação de fatores: um evento climático sem precedentes e a negligência das autoridades. Episódios similares no passado já sinalizavam a possibilidade de uma grande tragédia, como revela a cronologia dos fatos.
Primeiros alertas de chuva forte
Tudo começou em 21 de abril, quando o MetSul emitiu os primeiros alertas de chuva forte no estado. A previsão inicial era de “sucessivos episódios de chuva, com altos volumes em algumas áreas”. O volume acumulado de precipitação poderia alcançar até 200 mm em alguns pontos, entre o fim de abril e o começo de maio.
Risco de cenário similar a 2023
Quatro dias depois, o MetSul alertou para o risco de um cenário parecido com o verificado em 2023. As chuvas poderiam durar vários dias, alcançar 300 mm e superar o esperado para dois meses em apenas uma semana. Uma onda de calor no centro do país canalizava a umidade para o sul, assim como em 2023.
Primeiros alagamentos e vítimas
No dia 27 de abril, Canoas, Novo Hamburgo e Porto Alegre registraram os primeiros alagamentos. Três dias depois, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), anunciou a abertura dos primeiros abrigos na cidade. As primeiras mortes causadas pelas chuvas foram registradas e o Governo do Estado montou um gabinete de crise.
Subida recorde do Guaíba
O nível do Guaíba subiu quase quatro metros em apenas cinco dias. Na tarde do dia 30, o nível era de 1,4 metros. Acima de 2 metros, o Guaíba transborda, e já havia essa expectativa pelos recordes de cheias em seus rios contribuintes. O Guaíba bateria 4,3 metros em 3 de maio, alcançando a marca histórica de 5,30 metros dois dias depois.
Consequências da cheia
Em 2 de maio, o fornecimento de energia às cinco ilhas de Porto Alegre teve de ser interrompido. Com o recorde anterior de cheia de 1941 sendo superado, a capital gaúcha viu suas ruas alagarem e entrou em colapso nos dias 04 e 05 de maio.
2023: um ano de avisos ignorados
O Rio Grande do Sul enfrentou três enchentes com vítimas fatais em 2023. Em junho, 16 pessoas morreram após um ciclone. Em setembro, outro fenômeno similar deixou 54 mortos. Em novembro, chuvas mais brandas mataram outras cinco pessoas. Ao todo, foram 75 mortes no ano passado.
Falta de investimentos na prevenção
Apesar dos episódios trágicos, os investimentos na prevenção de enchentes não aumentaram substancialmente. Em Porto Alegre, o departamento responsável pela área fechou 2023 com R$ 428,9 milhões em caixa, com dados mostrando que o investimento estava em queda desde 2021.
Esforços pós-tragédia
Após a tragédia, o Governo do Estado recebe desalojados e doações. Um centro esportivo em Porto Alegre funciona como abrigo. Em Canoas, outro espaço acolhe 7.000 pessoas. Há dificuldade de obter mais informações consolidadas, já que o banco de dados estadual sofreu um alagamento.
Fonte: UOL