O estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás (UFG), divulgado na edição de fevereiro da revista Biodiversity and Conservation, prevê que 12% das 431 espécies de anfíbios existentes na Mata Atlântica podem ser extintas até 2050 devido às mudanças climáticas que já afetam a região.
Alguns dos resultados do estudo foram divulgados durante o “Workshop Dimensions US-BIOTA São Paulo – A multidisciplinary framework for biodiversity prediction in the Brazilian Atlantic forest hotspot”, realizado na Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo (FAPESP), relacionados ao projeto de pesquisa “Dimensions US-BIOTA São Paulo: integrando disciplinas para a predição da biodiversidade da Floresta Atlântica no Brasil”.
O relatório foi elaborado em conjunto com pesquisadores brasileiros, australianos e norte-americanos, com o auxílio do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP).
Rafael Loyola, coordenador do Laboratório de Biogeografia da Conservação da UFG e um dos líderes do estudo, relatou que o bioma Mata Atlântica é o habitat natural de 18% de todas as espécies desses animais na América do Sul, por isso o dado é tão alarmante. Além disso, ainda é possível ocorrer a redução de 88% da população de pererecas macaco, pererecas de vidro, dentre outras espécies de sapos.
O estudo foi baseado em quatro simulações climáticas diferentes para a região da América do Sul até 2050, também usadas no 4º Relatório de Avaliação (AR4) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Nele, os cientistas previram em quais áreas de conservação ambiental da Mata Atlântica essas espécies de anfíbios estarão localizadas, levando em conta a posição geográfica, o tamanho e as formas das reservas florestais, como também as habilidades dos animais de se dispersarem em raios de 50, 100 e 200 quilômetros, em uma média de 30 anos.
Embora as projeções tenham sido baseadas somente em anfíbios – grupo mais sensível às condições do clima –, os cientistas estimam que essa situação afeta também mariposas, alguns tipos de mamíferos, aves, e plantas.
De acordo com o estudo feito com base em modelos de transformações do clima, somente unidades de conservação localizadas em grandes altitudes possuem a condição de serem mais efetivas para aliviar os efeitos das mudanças climáticas na fauna.
Baseados nessas constatações, os cientistas sugerem que a proteção das unidades de conservação sejam alocadas em regiões de grandes altitudes da Mata Atlântica, e que estabeleçam corredores para a dispersão desses animais para esse local, a fim de ficarem protegidos. Através desse planejamento eles esperam amenizar os efeitos das mudanças climáticas sobre os anfíbios.
Loyola acredita na efetivação das soluções apresentadas pelas pesquisas de outros cientistas e na prontidão de órgãos legislativos em efetuar as medidas necessárias.
Projeto estuda impacto ambiental na Mata Atlântica
A pesquisa liderada por Loyola já é resultado de um modelo de estudos propostos por pesquisadores de diversas áreas, dentre elas genética, climatologia, taxonomia, geologia, ecologia, biogeografia, dentre outras, que se reuniram para compreender os fenômenos geológicos, evolutivos, genéticos e climáticos relacionados à biodiversidade da Mata Atlântica e como diversas espécies de animais e plantas vão reagir às mudanças no clima e o uso do solo.
Através das coletas por amostragem, os pesquisadores intensificam o estudo para trazer diagnósticos atuais sobre a região de forma a alertar as autoridades a respeito dos riscos iminentes. Segundo Ana Carolina Carnaval, coordenadora do projeto de pesquisa, o intuito é promover a integração de estudiosos de diversas áreas e unir ciência aplicada e básica para contribuir com a conservação da biodiversidade local.