Infelizmente a criação de animais silvestres como animais de estimação é algo corriqueiro. Diversas espécies de aves, pequenos primatas, felinos, répteis e quelônios são domesticados, sendo retirados de seu habitat natural.
A situação se agrava quando a atividade é legalizada, de acordo com a lei Nº 5197/67, que permite a criação de animais silvestres, desde que sejam seguidas uma série de recomendações impostas pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
O poder público compactua, mesmo que indiretamente, com o tráfico de animais silvestres, visto que, de acordo com a Polícia Federal, 80% dos criadouros autorizados a comercializar espécies silvestres têm ligação com traficantes de animais, sendo esta uma das principais causas de animais em risco de extinção no Brasil.
Em 2007, foi lançada a resolução Conama 394 a fim de limitar as espécies que poderiam ser reproduzidas em cativeiro para o uso doméstico. Para elaborar a lista de espécies o IBAMA realizou uma consulta pública, no final de 2012, perguntando à população qual animal silvestre deveria ou não ser domesticado.
Novamente o poder público ao invés de inibir o comércio de animais, estimula a escolha desses animais, mesmo depois de vários membros do IBAMA terem se oposto ao comércio de animais silvestres, já que foi constatado que a regulamentação não contribui para a redução do comércio ilegal de animais silvestres, pelo contrário, fomenta a formação de quadrilhas especializadas no contrabando animal.
Como Funciona o “Comércio Legal” de Animais Silvestres
No papel, as empresas autorizadas a criar animais silvestres podem vender aqueles que foram fruto da reprodução em cativeiro, acostumados com o contato humano e devidamente identificados, às pessoas que tenham conhecimento e atendam as necessidades biológicas deles.
A autorização do IBAMA para criar algumas espécies de animais exóticos em casa evita problemas judiciais e fornece o conhecimento sobre a forma adequada de tratar o animal e se precaver de danos à saúde física e mental do animal.
Os criadouros de animais silvestres ainda comercializam animais com outras finalidades, como alimentícia e extração da pele ou penas.
A Realidade Sobre o Comércio de Animais Silvestres
O comércio de animais silvestres é extremamente lucrativo, a movimentação financeira proporcionada pelo contrabando de espécies animais perde somente para o tráfico de drogas e de armas.
Devido à riqueza da biodiversidade nacional e a falta de fiscalização, o Brasil fornece 15% da fauna vendida ilegalmente no mundo, são pelo menos 400 quadrilhas organizadas que atuam em diversas regiões do país, principalmente no bioma Amazônico.
O comércio e a criação ilegal de animais silvestres são crimes previstos na Lei de Crimes Ambientais nº 9605/98 e na posterior regulamentação, o decreto nº 3179/99. Quem tem um animal em casa sem autorização pode ser multado em R$ 5 mil reais, já para quem maltrata animais, além da cadeia, a multa é de pelo menos R$ 3 mil reais e pode ser agravada conforme a situação do bicho.
Somente em 2012, no município de Manaus, capital do estado do Amazonas, mais de 800 espécies de animais silvestres foram encaminhadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, órgão ligado ao IBAMA, destas espécies 70% foram fruto de apreensões, 25% foram entregues pelos próprios “donos” e apenas 5% foram resgatados.
Todos os animais apresentavam sintomas de estresse, cerca de 50% sofreram maus tratos, seja pela desnutrição causada por falta de alimentação adequada ou por agressões físicas.
Em muitos casos o animal fica impossibilitado de retornar ao seu habitat e após o processo de recuperação é encaminhado para Zoológicos, onde passará o resto de seus dias em um ambiente artificial perdendo sua função ecológica.
Mesmo os animais legalmente comercializados não se adaptam a vida doméstica, a espaços confinados, eles foram feitos para viver livres na natureza. Ao serem tratados como animais de estimação podem ficar estressados, deprimidos e agressivos. Quando isso acontece muitas pessoas simplesmente abandonam o animal silvestre a própria sorte, outras levam os animais até as unidades de resgate, porém, muitos centros de reabilitação de animais silvestres estão superlotados.
Segundo a professora de ética e bem estar animal da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Dra. Anabela Pinto, animais domésticos como cães e gatos passaram por um processo de domesticação que levaram centenas de anos durante os quais a relação homem-animal foi se aprimorando. Tirar um animal silvestre da natureza é fadar o mesmo ao sofrimento.
Além dos danos causados aos animais exóticos domesticados pelo homem, a criação de espécies silvestres pode ser prejudicial à saúde humana.
Transmissão de Doenças: Homem e Animal
Os animais silvestres nasceram na natureza em um habitat totalmente diferente de uma casa ou apartamento, portanto ele possui bactérias que podem transmitir doenças aos seres humanos, chamadas de zoonoses, ou ainda o animal é que acaba sendo contaminado pelo homem.
Existem muitas doenças que o animal pode transmitir ao ser humano como: tuberculose, raiva, clamidiose, meningite, pneumonia e conjuntivite. Algumas delas são difíceis de serem tratadas por não haver muito conhecimento sobre as doenças dos animais silvestres.
Por sua vez, o animal pode sofrer imensos danos psicológicos como estresse e depressão, além de também contrair doenças dos seres humanos.
Os animais silvestres são componentes importantes dentro da biodiversidade e devem ser preservados. Por isso a criação desses animais mesmo que legalizada pode afetar o equilíbrio ecológico, eles são mais felizes e úteis se estiverem livres em seu ambiente natural que oferece a eles todas as condições adequadas para a sua sobrevivência.