O furacão Milton, um monstro de categoria 5, deixou um rastro de destruição que ainda assombra nossa memória coletiva. Mas e se disséssemos que o pior ainda está por vir? Na Universidade Internacional da Flórida (FIU), cientistas estão se preparando para um cenário que muitos consideram impensável: furacões que ultrapassam a escala atual de classificação.
Em um hangar transformado em laboratório de alta tecnologia, a FIU abriga a “parede de vento”, uma maravilha da engenharia composta por 12 ventiladores gigantescos. Cada um desses colossos pesa seis toneladas – o equivalente a dois caminhões. Juntos, eles podem gerar ventos que rivalizam com os furacões mais poderosos já registrados.
Richard Olson, diretor do Instituto de Eventos Extremos da universidade, não esconde sua preocupação. “Precisamos nos preparar para ventos de 270, 300 quilômetros por hora”, ele adverte. “É para onde a natureza está nos levando.”
Não é um alarmismo infundado. Em 2015, o furacão Patricia atingiu o México com ventos de 346 km/h. Quatro anos depois, o Dorian devastou as Bahamas a 297 km/h. Esses eventos extremos não são mais anomalias – são prenúncios de um futuro turbulento.
Para enfrentar essa nova realidade, a FIU está prestes a dar um salto quântico em sua capacidade de pesquisa. Com um investimento de US$12,8 milhões da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, a universidade planeja construir o NICHE – um laboratório capaz de simular ventos de até 320 km/h.
“Estamos entrando em território desconhecido”, explica Arindam Gan Chowdhury, o engenheiro civil liderando o projeto. “Mas é um território que precisamos explorar se quisermos proteger nossas comunidades.”
As implicações vão muito além da ciência pura. As descobertas desse laboratório provavelmente redefinirão como construímos nossas casas e cidades. Ioannis Zisis, outro engenheiro da FIU, prevê uma revolução na construção civil. “Paredes de concreto reforçado, telhados mais robustos, proteções inovadoras para janelas – essas podem se tornar a norma, não a exceção”, ele especula.
Mas a ciência é apenas metade da batalha. Tracy Kijewski-Correa, da Universidade de Notre Dame, ressalta o desafio de transformar essas inovações em realidade. “Mesmo diante de evidências irrefutáveis, muitas pessoas ainda subestimam o risco”, ela observa. “Precisamos não apenas de casas mais fortes, mas de uma mudança fundamental na forma como pensamos sobre nossa segurança.”
À medida que as mudanças climáticas intensificam esses fenômenos meteorológicos, o trabalho desses cientistas ganha uma urgência sem precedentes. Não se trata apenas de sobreviver à próxima grande tempestade, mas de reimaginar nossa relação com um planeta cada vez mais volátil.
O furacão Milton pode ter sido um marco assustador, mas as pesquisas na FIU sugerem que ele pode ser apenas o começo. A questão que resta é: estaremos preparados quando o impensável se tornar realidade?
Com informações da National Geographic