Desde os anos 70, inúmeros ataques de gaivotas têm sido registrados na Península Valdés, na Patagônia argentina, para onde os mamíferos viajam com o objetivo de dar à luz e amamentar seus filhos antes de partirem para a Antártida.
Violentos, os ataques ocorrem quando os cetáceos saem da água para respirar. As gaivotas que sobrevoam a área aproveitam este momento para arrancar pedaços inteiros da pele e gordura do animal, produzindo feridas, úlceras circulares, que podem se tornar uma via de entrada para agentes infecciosos.
De acordo com uma nova pesquisa publicada na revista científica Marine Biology, esses gigantes marinhos estão começando a mudar a forma como respiram para evitar os ataques violentos.
“Quando as baleias respiram, normalmente levantam primeira a cabeça e depois o corpo. E, se vão fazer um mergulho profundo, levantam a cauda também”, disse Ana Fazio, pesquisadora do argentino Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas.
“O que eu comecei a notar é que, agora, levantam a cabeça até o espiráculo (orifício usado para respiração na altura da do que seria a nuca) e, em seguida, voltam a entrar na água. Inspiram em um ângulo de 45° e submergem novamente”.
O movimento, que a pesquisadora batizou de “respiração oblíqua”, segundo ela, ocorre de forma rápida e “explosiva”, para evitar o ataque das aves. Apesar de diminuir as lesões, manter o corpo embaixo d’água exige um gasto de energia extra, algo custoso para os filhotes, que deveriam usar a maior parte de sua energia para mamar, crescer e ganhar força para garantir a viagem para a Antártida.
Apesar de tudo, a estratégia parece estar se consolidando. Na medida em que a população das aves não diminui, os cetáceos continuarão dependendo de sua própria criatividade para ganhar a guerra contra as gaivotas.