O ano de 2024 ficará marcado como um dos mais devastadores para os biomas brasileiros. Dados alarmantes do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam um aumento de 46% nos focos de incêndio em comparação com 2023, totalizando 278.229 ocorrências. Este número representa o pior cenário desde 2010, quando o país enfrentou 319.383 focos de queimadas.
Amazônia: o epicentro da destruição
A Amazônia, pulmão do planeta, foi o bioma mais castigado, com 140.346 queimadas registradas – um aumento de 42% em relação ao ano anterior. O Cerrado não ficou atrás, com 81.468 focos e um aumento alarmante de 60%, o maior desde 2012. O Pantanal, por sua vez, viu seus números dispararem em 120%, alcançando o pior registro desde 2020.
Uma crise multifacetada
Luciana Gatti, cientista climática do Inpe, descreve o cenário como “desesperador”. Ela relata que, mesmo no final de novembro, cidades como Manaus e Santarém ainda estavam cobertas por uma densa camada de fumaça, resultado de cinco meses ininterruptos de queimadas.
A especialista alerta para um problema ainda mais grave: o uso do fogo como ferramenta de desmatamento. “O fogo acaba sendo usado como arma de desmatamento, pois muitas vezes é considerado acidental e é mais difícil de provar e responsabilizar quem o causou”, explica Gatti.
Recordes preocupantes
São Paulo surpreendeu negativamente com um aumento de 423% nos focos de incêndio, totalizando 8.702 ocorrências. O Pará, futuro anfitrião da COP30, também apresentou números alarmantes: 56.060 registros, um aumento de 34%.
El Niño e mudanças climáticas: uma combinação explosiva
A seca histórica que assolou o Brasil em 2024, intensificada pelo fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas, criou condições ideais para a propagação das chamas. O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) reportou que a estiagem afetou 26% do território nacional, sendo a mais extensa e intensa dos últimos 70 anos.
Impactos de longo prazo
As consequências dessas queimadas vão muito além da destruição imediata. Luciana Gatti ressalta que as florestas queimadas continuarão emitindo CO2 por décadas devido à decomposição das árvores mortas. Além disso, ela aponta para uma relação direta entre a perda de vegetação e o desequilíbrio climático no Brasil.
Em busca de soluções
A especialista sugere medidas drásticas para combater o problema, como embargar propriedades que promovem queimadas para criação de gado e reduzir o rebanho bovino na Amazônia. “A Amazônia deveria ter produção de gado apenas para consumo local, e não para alimentar o mundo”, defende Gatti.
O ano de 2024 serve como um alerta vermelho para a necessidade urgente de ações efetivas contra as queimadas e o desmatamento no Brasil. A preservação dos biomas brasileiros não é apenas uma questão nacional, mas um imperativo global na luta contra as mudanças climáticas.
Com informações de Revista Exame