Em 1987, Goiânia foi palco do maior desastre radiológico do mundo fora de uma usina nuclear. A catástrofe, que ficou conhecida como o acidente com o Césio-137, deixou centenas de pessoas mortas e mais centenas com sequelas irreversíveis. De acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o incidente só não foi maior que o que aconteceu na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia.
A falta de informação e a curiosidade foram os elementos chave que deram início ao problema, quando dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o Césio-137, altamente radioativo.
A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica desativada e chamou a atenção pelo metal e chumbo que compunham o elemento, do qual queriam obter algum lucro. Apesar do peso do aparelho – cerca de 100 kg –, a dupla levou para casa de um deles e, posteriormente, vendeu para um ferro-velho.
O dono do estabelecimento abriu a cápsula e constatou que o material tinha um brilho azul intenso. Encantado, resolveu exibir o achado a seus familiares, amigos e parte da vizinhança. A falta de informação levou todos a acreditarem que estavam diante de algo importante e sobrenatural. A “exposição” durou cerca de 4 dias.
No entanto, foi apenas algumas horas após o contato com a substância que as primeiras vítimas apareceram. Os sintomas eram vômitos, náuseas, diarreia e tonturas, o que levou um grande número de pessoas a hospitais e farmácias da região.
Os médicos acreditavam se tratar de uma doença contagiosa e, apenas alguns dias depois, foi considerada a possibilidade de se tratar de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação. A descoberta se deu, na verdade, porque a esposa do dono do ferro-velho entregou uma parte da máquina à Vigilância Sanitária.
Os médicos que receberam o equipamento solicitaram a presença de um físico nuclear para avaliar o acidente, que identificou índices de radiação na região. A primeira medida tomada foi separar todas as roupas das pessoas expostas ao material radioativo e lavá-las com água e sabão para a descontaminação externa.
Após esse procedimento, as pessoas tomaram uma substância denominada de “azul da Prússia”, que elimina os efeitos da radiação, fazendo com que as partículas de césio saíssem do organismo através da urina e das fezes. Os esforços, no entanto, não foram suficientes para salvar todas as vítimas, levando centenas de pessoas à morte.
A retirada de todo o material contaminado com o césio-137 rendeu cerca de 6.000 mil toneladas de lixo, entre roupas, utensílios, materiais de construção, etc. Todo esse material foi levado para a unidade do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana de Goiânia, onde foi enterrado.
Agora, 26 anos depois, os resíduos já perderam metade da radiação. No entanto, o risco completo só deve desaparecer em pelo menos 275 anos. Atualmente, as vítimas reclamam da omissão do governo para a assistência médica da qual necessitam. Para garantir seus direitos e lutar contra o preconceito que sofrem, fundaram a Associação de Vítimas contaminadas do Césio-137.