Há alguns anos, o deserto do Atacama, no Chile, ganhou as manchetes com imagens chocantes de “montanhas” de roupas entre suas dunas. Esse cenário impressionante evidenciou o descaso da indústria da moda fast-fashion com o meio ambiente.
Conhecido como o “lixão do mundo”, o local tornou-se o destino clandestino de pilhas de roupas de grandes marcas, resultando em uma estimativa alarmante de 39 mil toneladas de resíduos têxteis despejados ilegalmente a cada ano.
Em uma tentativa de chamar a atenção para essa realidade e mostrar que é possível mudar esse ciclo de descarte prejudicial, uma ação pioneira transformou o “cemitério de roupas” do deserto do Atacama em uma passarela de moda ecoconsciente.
Atacama Fashion Week
Sob o nome de “Atacama Fashion Week”, o evento, realizado em parceria com a ONG Desierto Vestido, a Fashion Revolution e o Instituto Febre, aconteceu na cidade de Alto Hospício, que acumula mais de 59 mil toneladas de peças de roupas.
Durante o desfile, modelos vestiram looks criados por produtores a partir das roupas descartadas no local. Além do desfile, o projeto também incluiu um editorial fotográfico assinado por Mauricio Nahas, renomado fotógrafo com mais de 30 anos de experiência.
“Estamos aqui todos os dias, lutando contra esse problema crescente. Era necessário fazer algo impactante para atrair a atenção de todos os envolvidos e discutir soluções. O Atacama não pode mais esperar”, declarou Ángela Astudillo, co-fundadora da Desierto Vestido.
Eloisa Artuso, cofundadora do Instituto Febre, destacou a urgência de ações por parte do setor da moda para enfrentar a crise climática. O Instituto estima que, para evitar um aumento de 1,5ºC na temperatura global conforme o Acordo de Paris, o setor da moda precisará reduzir suas emissões pela metade até 2030.
A cultura do “descartável” na moda moderna tem impactos significativos no meio ambiente. Muitas peças são usadas apenas algumas vezes antes de serem descartadas. Esse problema não se limita ao deserto chileno, mas é global, com resíduos têxteis sendo descartados de São Paulo a Gana.
“Uma mudança sistêmica na indústria da moda é crucial, e todos temos um papel a desempenhar. Das marcas, exigimos transparência e compromissos concretos. Dos governos, esperamos políticas públicas e fiscalização adequada. Como cidadãos, devemos disseminar informações e impulsionar ações”, enfatizou Fernanda Simon, diretora executiva do Fashion Revolution Brasil.
Apesar disso, muitas marcas ainda são pouco transparentes sobre seus resíduos. Segundo o Índice de Transparência da Moda Brasil do Fashion Revolution, a maioria das principais empresas que operam no mercado brasileiro não divulga informações sobre seus resíduos de pré-produção e pós-produção.
O Atacama Fashion Week contou com o apoio da agência Artplan, responsável pela concepção criativa do projeto, e da produtora de vídeo Sugarcane Filmes.
Com informações de Um Só Planeta.