As necessidades de consumo de água da população de alguns países só é possível por meio da dessalinização, ou seja, a transformação da água do mar em água doce. O processo, porém, traz riscos ao meio ambiente.

O ato acontece em várias nações, como as Maldivas, Malta e as Bahamas. A Arábia Saudita, por exemplo, com uma população de 34 milhões de habitantes, obtém cerca de 50% da sua água potável da dessalinização.

Um dos subprodutos da dessalinização é uma água salobra tóxica, que pode degradar os ecossistemas costeiros e marinhos.

Em grande parte desses processos, para cada litro de água potável produzido, gera-se em torno de 1,5 litro de líquidos poluídos com cloro e cobre. Quando bombeada de volta para o oceano, essa água salobra tóxica diminui o volume de oxigênio na água e impacta os organismos ao longo da cadeia alimentar.

Uma salinidade e temperaturas mais elevadas podem causar um decréscimo no conteúdo de oxigênio dissolvido, resultando em problemas chamados hipoxia. O fenômeno prejudica organismos que vivem em cima ou debaixo d’água, com efeitos visíveis por toda a cadeia alimentar. Além disso, certos compostos, como o cloreto e o cobre, usados no processo de pré-tratamento da dessalinização, podem ser tóxicos para os organismos que vivem onde os resíduos são despejados.

Preocupação

Um levantamento realizado em 2018 pela ONU (Organização das Nações Unidas) apontou que  existem atualmente quase 16 mil usinas de dessalinização operando em 177 países. Elas produzem um volume de água doce equivalente a quase metade do fluxo médio que corre nas Cataratas do Niágara. O líquido salobro e tóxico que é descarregado no mar ameaça contaminar as cadeias alimentares, caso não seja tratado.

Os oceanos cobrem 70% do planeta e os mares fornecem alimento para mais de 3 bilhões de pessoas, além de absorverem 30% do dióxido de carbono lançado na atmosfera e 90% do calor gerado pelas mudanças climáticas.

Com uma população que só aumenta, mares estão cada vez mais auxiliando o abastecimento de água doce.

A crescente demanda populacional, associada ao crescimento econômico e a um maior consumo de água per capita, exacerba a escassez de recursos hídricos na maioria das regiões do mundo, ao lado da redução do abastecimento devido às mudanças climáticas e à contaminação de fontes de água doce.

A pesquisa da ONU afirma que recursos hídricos não convencionais, como os oriundos da dessalinização, são fundamentais para promover o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, o qual tem o objetivo de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos. A dessalinização pode ampliar os suprimentos de água para além do que está disponível nos ciclos hidrológicos. Mas para isso, também são necessárias inovações na gestão e descarte da água salobra residual.

Problemas x Necessidades

A produção da água salobra tóxica e o alto consumo de energia são alguns dos principais pontos negativos da dessalinização. O descarte da água salobra tóxica não é apenas custoso, como também está associado a danos ambientais. Estimativas do estudo da ONU dão conta de que  a produção dessa água salobra (residual) esteja em 142 milhões de metros cúbicos por dia, aproximadamente 50% mais do que em quantificações prévias.

Pesquisas sugerem que existem oportunidades econômicas envolvendo a gestão sustentável desses resíduos, incluindo na produção do sal comercial, na recuperação de metais e no uso da água salobra em sistemas de produção de peixes.

Atualmente, a dessalinização está concentrada em países desenvolvidos e de renda alta. Para que sistemas acessíveis e ambientalmente responsáveis sejam implementados em nações de renda baixa ou média para baixa, são necessárias inovações tecnológicas, além de mecanismos inovadores de financiamento, para apoiar projetos de dessalinização.

Prevenção

Em nível global, 80% das águas residuais vai parar nos oceanos, rios, lagos e zonas úmidas. Por meio do Programa Global de Ação para a Proteção do Meio Ambiente Marinho contra atividades em solo, a ONU Meio Ambiente está trabalhando para prevenir a degradação causada por ações realizadas na superfície terrestre, inclusive a operação de usinas de dessalinização.

A iniciativa está levando as pessoas a abandonar práticas de remoção dos resíduos e adotar modelos de recuperação dos recursos. A estratégia envolve capacitação e treinamento, promoção das melhores práticas e tecnologias, conscientização e comunicação e o enfrentamento de lacunas de dados.