Um estudo recente do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que o impacto do calor nas grandes cidades brasileiras é desigual, afetando mais severamente os bairros mais pobres e populações vulneráveis.

A pesquisa analisou as taxas de mortalidade durante ondas de calor entre 2000 e 2018 nas 14 principais regiões metropolitanas do Brasil. Os resultados mostraram um aumento significativo na frequência e intensidade das ondas de calor, com o país experimentando de três a 11 eventos por ano na década de 2010, em comparação com no máximo três nas quatro décadas anteriores.

O estudo identificou 48.075 mortes atribuíveis às ondas de calor no período analisado, com doenças circulatórias, respiratórias e câncer como as principais causas. As taxas de mortalidade foram mais elevadas entre mulheres, idosos, pessoas negras e pardas, e indivíduos com níveis educacionais mais baixos.

Denise Gomes, moradora de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, relata que o calor na região tem se intensificado nos últimos anos. O bairro, conhecido por ser um dos mais quentes da cidade, sofre com a formação de ilhas de calor devido à sua localização geográfica e à falta de infraestrutura adequada.

Em contraste, bairros mais ricos, como a Gávea na Zona Sul do Rio, beneficiam-se de “ilhas de frescor” devido à melhor infraestrutura urbana, maior arborização e proximidade de amenidades naturais.

O pesquisador Djacinto Monteiro, do Lasa, destaca a necessidade urgente de políticas de adaptação, incluindo sistemas de alerta integrados ao sistema de saúde e estratégias para reduzir a vulnerabilidade das populações mais afetadas.

A pesquisa ressalta que as cidades são grandes contribuintes para o aquecimento global, sendo responsáveis por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa. Com 61% da população brasileira vivendo em áreas urbanas, segundo o IBGE, o desafio de mitigar os efeitos do calor extremo torna-se ainda mais crítico.

Especialistas enfatizam a necessidade de ações imediatas para adaptar as cidades às mudanças climáticas e proteger as populações mais vulneráveis, garantindo uma distribuição mais equitativa dos recursos e infraestrutura necessários para enfrentar as ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas.

Com informações de Jornalismo Ambiental