Anualmente, a fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) realizam estudos sobre a área da Mata Atlântica, levantando dados e registros importantes sobre os avanços do nível de desmatamento das florestas. No apontamento deste ano, o estudo divulgado apresentou uma marca inédita de aumento nestes últimos 10 anos.
De acordo com os pesquisadores, o desmatamento da Mata Atlântica, entre 2015 e 2016, cresceu cerca de 60% em relação ao período de 2014 e 2015. Os números mostram que o avanço chegou aos impressionantes 29.075 hectares (ha), ou 290 Km², nos 17 Estados do bioma Mata Atlântica referente a 18.433 ha, comparado ao estudo anterior.
“O que mais impressionou foi o enorme aumento no desmatamento no último período. Tivemos um retrocesso muito grande, com índices comparáveis aos de 2005”, disse Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, na divulgação oficial da fundação. A marca anterior era do período de 2005 a 2008, quando a destruição foi de 102.938 ha, ou seja, média anual de 34.313 ha.
Aumento da produção agrícola pode ser um dos fatores
Para explicar o agravamento da situação, o diretor de Políticas Públicas da Fundação, Mario Mantovani, cita os avanços da produção agropecuária como um dos principais fatores. Segundo ele, o setor tem desenvolvido suas atividades não apenas sobre as florestas da Mata Atlântica, mas em todos os biomas, após as alterações realizadas no Código Florestal e decorrente desmonte da legislação ambiental brasileira.
Não à toa, os quatro estados que lideram o aumento de desmatamento (Bahia com 12.288 ha, Minas Gerais com 7.410 ha, Paraná com 3.453 há e Piauí com 3.215 ha), estão entre os estados conhecidos pelo grande desempenho na produção agropecuária.
Mario destaca também que a ofensiva continua, através da tentativa de flexibilização do licenciamento ambiental e diversos ataques ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Inclusive, vale lembrar que, em maio, duas propostas de Medidas Provisórias foram apresentadas e tramitaram no Congresso Nacional, com o objetivo de reduzir consideravelmente a proteção de grande parte da área de parques nacionais da Floresta Amazônica.
“No momento em que o caos está instalado em Brasília, numa crise política que tem no seu centro a maior empresa de carnes do mundo, a bancada do agronegócio e o núcleo central do governo federal avançam, de forma orquestrada e em tempo recorde, sobre o nosso sistema de proteção ambiental. A sociedade não pode ficar alheia às decisões tomadas por nossos governantes e legisladores. Precisamos nos mobilizar para frear o desmonte da nossa legislação”, conclui o diretor.