Plantar árvores, seja para reduzir a poluição, seja para embelezar a cidade, não é tão simples quanto parece. A queda constante de árvores, por conta de fortes ventos e chuvas, tem mostrado que é preciso responsabilidade na hora de cavar o buraco, plantar, monitorar o crescimento e podar uma árvore.
Um corte certo de árvores e galhos exige técnica, de forma que a árvore mantenha-se bonita e sem riscos para a população. Para evitar acidente e livrar a rede elétrica de galhos e folhas, o engenheiro agrônimo da AES Eletropaulo, Luiz Gustavo Ripani, deve mandar podar cerca de 660 mil árvores na região metropólitana de São Paulo até o final do ano. As informações foram divulgadas na palestra “Arborização e Poda Urbana: Árvores para Cidades”, durante a Virada Sustentável 2015.
“Aproximadamente 56% dos desligamentos de rede elétrica são causadas por árvores. No Brasil não houve projeto paisagístico. Em São Paulo, por exemplo, o plantio de árvores se deu após um amplo crescimento populacional. Até então só existia concreto. E cada um plantou um tipo de árvore, sem nenhum planejamento”, explica Gustavo. “Depois de tantas árvores plantadas, não houve manutenção, por isso muitas das árvores caem com o tempo.
A importância da poda para a cidade e para a rede elétrica
Gustavo frizou em sua apresentação que a visão da poda vem mudando. O que era visto como algo errado, cruel, está sendo mais aceito. Porém, é preciso entender de árvores e da técnica para que a prática seja bem sucedida. “Um corte errado pode matar uma árvore. Seja porque a cabeça ou a raíz foi cortada, seja porque o corte impediu uma boa cicatrização, deixando a árvore suscetível a fungos e, consequentemente, a quedas”, diz. “Quando plantadas muito perto de sargetas, elas também correm risco, porque podem tombar”, completa.
Um bom exemplo de planejamento paisagístico citado pelo engenheiro foi a cidade de Roma na Itália. Lá as árvores ganham uma espécie de RG e são monitoradas e podadas constantemente. Após 10 ou 20 anos, dependendo do tipo, uma mesma árvore é plantada em um viveiro, com o mesmo norte magnético e recebendo as mesmas podas. Quando a árvore localizada na rua está para morrer, é rapidamente trocada por aquela que estava sendo cultivada em um viveiro. Todo o processo acontece durante a noite, com a ajuda de um guindaste.
Outro exemplo de planejamento paisagístico dado por Gustavo é de Zurique, na Suíça. Como lá o inverno é muito rigoroso, foram analisadas as rotas dos ventos e plantadas árvores nas vias principais, de forma que as temperaturas pudessem subir de 0,5 a 1 grau. “O Brasil ainda é embrião quando se fala em projetos como esses. Além disso, a avaliação de risco é pouco feita por aqui”, lamenta. “Já houve casos em que uma árvore estava prestes a cair sobre uma fiação que abastecia metade da cidade da São Paulo, incluindo 10 hospitais. Compramos uma briga, mas retiramos a árvore para evitar o pior”, lembra Gustavo.
Acredita-se que a adoção de uma fiação subterrânea seja a solução para reduzir o número de cortes de árvores na cidade, mas para isso é preciso que São Paulo disponha de uma galeria técnica. “Não é apenas abrir um buraco e enterrar os fios. Um caminhão precisa passar por baixo da rua para fazer as devidas manutenções”, esclarece. E é preciso lembrar também que são apenas as empresas de energia elétrica que fazem uso da fiação aérea no Brasil. Há outros tipos de serviço que utilizam este método de abastecimento.
Poda sem autorização é crime ambiental
Para cortar galhos ou retirar uma árvore de lugar é necessário que se tenha uma autorização da prefeitura. Graziela Lourensoni, gerente de produto da Husqvarna, explica que, nestes casos, um engenheiro agrônomo será deslocado até a área para verificar a necessidade de poda ou remoção.
“As legislações ambientais são rigidas no Brasil e ações como essas podem ser consideradas crimes ambientais.”
Dependendo do caso existe uma responsabilidade legal sobre a árvore, mas é dever de todos os que a circundam fazerem a devida manutenção e monitoramento. Caso a prefeitura plante uma árvore na porta da casa de um morador, por exemplo, legamente a responsabilidade pela manutenção e poda é da própria prefeitura, mas nada impede que todos zelem pela planta.
Além de falar sobre os cuidados na hora da poda, Graziela levou para a palestra uma serra elétrica e falou sobre questões de segurança. “Os profissionais que fazem a poda precisam dominar bem a técnica e o funcionamento das ferramentas a serem utilizadas, para que não haja acidentes graves nem por conta de uso incorreto da serra, nem por mau posicionamento da pessoa na árvore”, alerta.
O destino das árvores podadas
Luiz Gustavo Ripani explica que 100% das árvores podadas ou retiradas voltam para o meio ambiente. “Elas viram adubo para novas árvores ou briquet para alimentar processos de biomassa”.
O engenheiro agrônomo acredita que, para avançar neste segmento, o Brasil precisa dar mais valor aos artigos técnicos, dar mais espaço para as acedemias. Isso porque não adiante tantos estudantes e profissionais escrevem trabalhos interessantes, frutos de intensa pesquisa, e a prefeitura não implementã-los.
“O que estamos vivendo hoje é consequência da ausência de planejamento no passado. Não é só plantar e largar. É preciso preparar o solo, monitorar o crescimento e conduzí-lo com podas corretas, de forma que a árvore seja compatível com os equipamentos urbanos (rede elétrica, semáforos, parques). Antes de plantar árvores é preciso consultar um engenheiro agrônomo ou a prefeitura”, finaliza.