Um dos processos utilizados pela indústria para conservar alimentos por mais tempo é a irradiação iônica. A técnica consiste em submeter frutas, verduras, legumes e carnes a doses controladas de radiação com Césio 197, Cobalto 60, raios-x ou isótopos acelerados.
A irradiação evita a propagação de insetos e doenças, retarda a maturação e o envelhecimento e conserva os tecidos dos alimentos, mantendo-os frescos e aumentando o seu tempo de armazenamento. Isso ocorre porque a radiação transforma átomos estáveis em íons, ou seja, em átomos eletricamente carregados, impedindo que os tecidos degenerem.
Há polêmica quanto à segurança de quem consome produtos conservados por radiação. Apesar de o processo ser considerado seguro para o homem, a carga iônica recebida por uma única fruta pode chegar a 150 milhões de vezes a quantidade necessária para uma única radiografia de tórax.
O grupo ativista Food and Water Watch, defende que a técnica é cara e muitas vezes ineficaz, pois contribuiu para as más condições de higiene da indústria alimentícia e praticamente extingue as propriedades naturais dos alimentos. Somando os efeitos da irradiação ao tempo de armazenamento, proteínas e vitaminas podem ser diminuídas em até 90%. O grupo também acredita que a irradiação pode ter contribuído para o aumento de pessoas com cânceres no mundo.
A professora e pós-doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, Elaine de Azevedo, em seu livro Alimentos Orgânicos – ampliando os conceitos de saúde humana, ambiental e social, reafirma: “Essa prática é uma solução muito cara para o problema da segurança sanitária, atuando nos sintomas em detrimento das causas”.
Segundo a pesquisadora, é fundamental uma análise crítica em relação ao uso de irradiação. Alimentos cultivados e consumidos localmente seriam mais eficientes menos custosos, além de oferecer menos perigos. “Até o momento não existem estudos suficientes que garantem sua inocuidade [da radiação iônica] em seres humanos. E, por si só, é suficiente para avaliação da relação risco/benefício”, argumenta.
Por outro lado, a irradiação em alimentos é legal em diversos países do mundo: o processo é considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A opinião é compartilhada pela Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA): para estes órgãos, alimentos irradiados são totalmente livres de substâncias tóxicas e podem ajudar a resolver o problema da falta de alimentos em diversos países.