Na Europa e nos Estados Unidos já existem profissionais da área da saúde usando o termo eco-ansiedade para designar as crises de ansiedade geradas por conta do aquecimento global.
As crises climáticas vêm desencadeando inúmeros problemas ambientais por todo o planeta. Derretimento de geleiras, desertificação, terremotos e outros fenômenos ocasionados por conta das atividades humanas, são noticiados pelos veículos de comunicação, muitas vezes de forma alarmante, e isso tem provocado sentimentos de angústia e ansiedade, que alguns especialistas batizaram de eco-ansiedade.
Apesar de ser um termo recente, foi citado pela primeira vez em 2017, não se trata, propriamente, de um novo diagnóstico, como afirma a professora do curso de Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi e doutora em Psiquiatria e Psicologia Médica, Marilia Mariano. “É preciso tomar cuidado para não criar um novo diagnóstico. As preocupações ambientais podem ser os gatilhos que desencadeiam a crise de ansiedade, que geralmente se caracteriza por sentimentos de angústia, dores no peito, dificuldade para dormir, alterações no apetite, entre outros”, explica a professora.
A doutora Marília explica que os transtornos de ansiedade variam, podendo ser mais ou menos graves. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de ansiedade no Brasil é de 9,3%, que corresponde a 18,6 milhões de brasileiros – uma das maiores taxas do mundo. Segundo especialistas, na maioria das vezes, os quadros de ansiedade começam na infância ou na adolescência, mas também podem aparecer na idade adulta.
A origem do estudo
Em março de 2017 a professora de psicologia e estudos ambientais da Faculdade de Wooster, em Ohio (EUA), Susan Clayton, publicou um artigo intitulado “O impacto das mudanças climáticas na saúde mental”. No texto, a professora afirma que as notícias sobre as mudanças climáticas vêm interferindo na saúde mental de pessoas preocupadas com o planeta, de forma semelhante a traumas ocasionados por perdas significativas, como a de entes queridos, trabalho, bens materiais, entre outros.
Além disso, o estudo também mostra que pessoas que vivem em áreas afetadas por desastres naturais tendem a ter mais problemas relacionados às crises de ansiedade e depressão. Em 2005, quando o furação Katrina passou pelo sul da Flórida matando cerca de 1800 pessoas, as ideias de suicídio dobraram naquela região e 49% da população desenvolveu ansiedade ou depressão, diz o estudo.
O documento também faz um alerta em relação às crianças. De acordo com os pesquisadores, as crianças geralmente tendem a demonstrar mais problemas relacionados à preocupação com os eventos climáticos do que os adultos. Sendo assim, a recomendação é observar possíveis mudanças de comportamento e buscar apoio psicológico e psiquiátrico, sempre que necessário.
Como evitar?
Tomar consciência dos atos e pensamentos é um dos principais caminhos para a cura da ansiedade. Para quem se preocupa com o que pode acontecer no futuro, em relação aos desastres ambientais, saiba que a saída está justamente no contato com a natureza.
Diversos estudos já comprovam que o contato com a natureza pode ser benéfico para diminuir sintomas relacionados ao estresse ou ansiedade. Por isso, o ideal é procurar este contato sempre que possível e também adotar um estilo de vida mais saudável.
O estudo da professora Susan Clayton também dá algumas dicas de como evitar a eco-ansiedade.
1. Seja resiliente: A palavra resiliência tem origem no latim e significa “voltar ao seu estado original”. Por isso, resiliência é um dos caminhos para não sofrer com a ansiedade, especialmente após atravessar situações críticas ou difíceis.
2. Promova o otimismo: ser otimista é buscar o lado positivo das situações. O otimismo nos traz alegria, motivação, entusiasmo e ajuda a afastar os pensamentos negativos.
3. Desenvolva a autorregulação: esta é a capacidade de monitorar e controlar os nossos próprios comportamentos, emoções ou pensamentos, modificando-os de acordo com as situações. Quando a capacidade de autorregulação é reduzida, sobressaem os sentimentos de fúria, depressão ou ansiedade.
4. Busque coisas que tragam sentido para a sua vida: ter objetivos traçados é uma das chaves para a felicidade. Ter um plano, um projeto, promove uma série de benefícios (que vão desde a ampliação do círculo de amizades até o envolvimento em atividades sociais e culturais). Além disso, esta prática ajuda a reduzir drasticamente o risco de depressão e ansiedade.
5. Promova a conexão com a família, a cultura local e a comunidade: estar entre pessoas queridas, que pactuem das mesmas ideias e objetivos, traz força e entusiasmo para a vida. Isso traz uma relação satisfatória com familiares e amigos, fortalecendo a autoestima.
Nem sempre é fácil colocar em prática essas dicas. Por isso, o indicado é sempre buscar ajuda profissional, de um psicólogo ou médico psiquiatra, para falar dos problemas e sentimentos aflitivos e encontrar um caminho para resolver essas questões.