Quase um terço dos peixes no Estado do Amapá, no Norte do Brasil, possui níveis elevados de mercúrio e tudo indica que isso se deve à mineração ilegal, de acordo com um novo estudo realizado pelo World Wildlife Fund (WWF).
O mercúrio é uma substância extremamente perigosa para o consumo humano e, segundo os cientistas do WWF no Brasil, mais de 400 peixes coletados em cinco regiões do Amapá – na fronteira com a Guiana Francesa – apresentaram níveis extremamente altos da substância. A pesquisa incluiu peixes de sistemas fluviais, que vivem perto de áreas ambientalmente protegidas.
“O nível superou os limites de segurança em 77,6% dos peixes carnívoros, 20% dos onívoros e 2,4% dos herbívoros”, disseram os pesquisadores no estudo, publicado no Jornal Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública.
O mais preocupante, de acordo com os pesquisadores, é que quatro das espécies com as maiores concentrações de mercúrio estão entre as mais consumidas pelas pessoas daquela região.
Mineração ilegal
A principal fonte de poluição por mercúrio na Amazônia é a mineração artesanal e em pequena escala, que responde por 15% do ouro extraído da região. O mercúrio é usado no processo de purificação do ouro – contribuindo com cerca de 71% de todas as emissões de mercúrio a cada ano.
E a substância, classificada como “uma das dez principais de grande preocupação para a saúde pública” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), acaba viajando para longe das minas, contaminando plantas, animais e prejudicando gravemente a saúde, a produtividade e a qualidade de vida das pessoas na Amazônia.
Um relatório lançado em 2018 pelo WWF já alertou para os riscos da atividade. Segundo o estudo, estima-se que o mercúrio já tenha afetado negativamente a saúde de mais de 1,5 milhão de pessoas na região.
Por este motivo, o relatório pede que governos e todos os envolvidos na cadeia de comercialização do ouro, além de consumidores e mineradoras, tomem medidas imediatas para reduzir o uso desenfreado de mercúrio na Amazônia. Além disso, os governantes precisam apoiar os mineradores a adotarem meios de vida ambientalmente sustentáveis.