Com uma média de cinco serpentes por metro quadrado, a Ilha Queimada Grande, a 35 km do município de Itanhaém, na Região Metropolitana da Baixada Santista, em São Paulo, é considerada um dos lugares mais inóspitos do planeta. Por isso, somente alguns biólogos se atrevem a frequentar o local que, ao longo de seus 43 hectares, abriga no mínimo 15 mil cobras, tão venenosas que podem matar uma pessoa em até seis horas.
Inicialmente o território integrava a região onde se desenvolveu a cidade litorânea, porém, há uns 10 mil anos, durante o período de glaciação da Terra, águas do degelo cobriram grande volume das áreas nas proximidades, o que isolou o espaço e, por consequência, deu origem à Ilha. Sendo assim, devido ao isolamento geográfico, os exemplares da comumente encontrada Bothropoides jararaca (jararaca-da-mata) foram expostos a um novo tipo de ambiente e a uma dieta alternativa.
Rodeada por água do mar, a Ilha Queimada Grande oferece pássaros (com cerca de 30 tipos migratórios) e outras poucas espécies de animais para alimentação dos ofídios, uma vez que as serpentes não se arriscam a caçar peixes, arraias e tartarugas no habitat marítimo. Motivadas pela necessidade de obter comida, as cobras desenvolveram a capacidade de subir em árvores (o que não era natural para a jararaca-da-mata) e mudaram de coloração, exibindo um tom ocre (para chamar pouca atenção); momento em que surgiu a Bothropoides insularis (jararaca-ilhoa).
Próxima a Itanhaém, a ínsula não é habitada por seres humanos desde 1918, já que a jararaca-ilhoa se tornou responsável por 90% das mortes relacionadas a serpentes no Brasil e afastou a população de lá. Enquanto resistiram, os homens tentaram atear fogo na mata costeira para espantar as cobras, o que originou o nome da “Ilha Queimada Grande”. Também conhecido como Snake Island (Ilhas das Cobras, numa tradução do inglês), o espaço tem sido lar das jararacas-dormideiras e das jararacas-ilhoas, tipo que só pode ser encontrado na Ilha.
Como não foi possível conter a infestação de víboras e a área não disponibiliza praias ou estruturas de embarque, apenas biólogos do Instituto Butantan frequentam a região a fim de realizar estudos, prática iniciada em 1984. Contudo, na ausência de postos de fiscalização, os ofídios são vítimas do contrabando de espécimes e exploração da indústria farmacêutica, interessada na extração de seu veneno que possui uma substância vasodilatadora útil para a formulação de remédios anti-hipertensivos.
Portanto, embora a Ilha Queimada Grande seja um dos piores lugares para se visitar, é preciso desenvolver medidas de proteção ambiental antes que as serpentes sejam assoladas pela extinção, pois, não existem em nenhuma outra parte do mundo.