Uma pesquisa do Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas, realizada em fevereiro com 58.373 indústrias espalhadas em 39 municípios da região da metrópole paulista, apontou que 10 milhões de litros de esgoto são despejados por hora em córregos e rios da região metropolitana de São Paulo de maneira ilegal. De acordo com especialistas, estes efluentes industriais conseguem encher dois lagos do Parque Ibirapuera por dia.
Embora o volume de descarte das indústrias seja inferior ao esgoto residencial, que deixa de ser coletado e tratado pelas redes públicas, seu efeito nocivo na natureza pode ser equivalente ou até pior. A estimativa é de que cada litro de esgoto industrial seja, em média, 6,6 vezes mais poluidor do que os esgotos residenciais, os quais, segundo a Sabesp, tem 69% da sua quantidade tratados.
De acordo com esta relação, os autores do levantamento dizem que o total despejado ilegalmente pelas indústrias seria o equivalente a todo o esgoto doméstico produzido por uma cidade de 11,9 milhões de habitantes – maior que a população da capital de São Paulo.
“O problema é grave, ainda mais quando consideramos que vivemos em uma região com escassez hídrica. Esse despejo traz prejuízo aos mananciais, tornando ainda mais caro o tratamento da água ou obrigando a buscar água cada vez mais longe”, explica Gesner Oliveira, coordenador da pesquisa.
De acordo com a Cetesb, 42% das águas monitoradas no ano de 2012 foram classificadas como ruins, regulares ou péssimas. Além disso, três pontos de captação apresentaram situação crítica: Rio Tietê, Braço de Taquacetuba e Rio Cotia.
A população também sofre os efeitos da água poluída. Os resíduos industriais podem causar contaminação por metais pesados, provocando irritações na pele, reduções das funções neurológicas, dores de cabeça, rinites alérgicas e dermatoses.
Origem da água usada nas indústrias
O levantamento da FGV considerou que a água consumida por essas instalações tem duas origens: as redes públicas de abastecimento ou direto de mananciais, que tem a permissão dos órgãos competentes. Aproximadamente, de 9 a cada 10 litros consumidos pela indústria tem origem em poços artesianos.
Repercussão
José Eduardo Lutti, primeiro promotor de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público de São Paulo, presente no seminário, comentou que ficou surpreso com a quantidade jogada de forma ilegal no meio ambiente. “Isso mostra uma total falta de planejamento do poder executivo. Dados que a Cetesb passavam informalmente para nós eram de que o problema estava sendo equacionado”, diz.
Entretanto, Lutti pondera que como a metodologia usada pela FGV é recente, seriam necessário mais cálculos, inclusive da própria Cetesb, para saber qual é o real tamanho do problema.
Por meio de nota a assessoria de imprensa da Cetesb informou que casos autuados pelo órgão serão tratados dentro da legislação ambiental prevista.