Os resíduos plásticos fazem nascer um novo ambiente chamado plastisfera
Estima-se que cerca de cinco trilhões de microplásticos estejam vagando neste momento pelos oceanos. São resquícios de sacolas, garrafas e outros materiais, que se degradaram em pequenas partículas, medindo 5 mm ou menos.
Essa poluição faz com que a natureza dos ambientes marinhos seja alterada e é isso que a doutoranda da Arizona State University, Kassandra Dudek, vem observando.
Ela selecionou os seis tipos mais comuns de plásticos encontrados na maioria dos itens domésticos, como garrafas PET e caixas de leite, e cortou-os em pedacinhos bem pequenos antes de mergulhá-los nas águas tropicais da Baía de Almirante, na Estação de Pesquisa Bocas del Toro.
Após um mês e meio de pesquisa, Kassandra notou que as bactérias marinhas não eram exigentes quanto às superfícies que escolhiam para se estabelecer. Elas formaram espécies de biofilmes – acúmulo de bactérias – em todos os tipos de plástico, usando-os como recifes artificiais.
Foto: Divulgação/Kassandra Dudek
Plastisfera, um novo ambiente marinho
Os cientistas estimam que entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas de plástico entrem no ambiente marinho anualmente. Essa poluição vem contribuindo para a formação de um novo ambiente chamado plastisfera, um tipo de ecossistema formado nos microplásticos encontrados nos oceanos.
Alguns estudos realizados anteriormente, descobriram que vários organismos minúsculos, que vão de algas a bactérias, se instalam nos resíduos plásticos transformando-os em ricos “recifes microbianos”. Embora alguns dos habitantes desses “recifes” possam degradar o plástico, ele ainda fornece um lar relativamente estável para micróbios.
A pesquisadora Linda Amaral-Zettler, do Laboratório de Biologia Marinha da Universidade de Chicago, usou técnicas de microscopia eletrônica e sequenciamento de genes que permitem examinar o DNA dos micróbios, revelando uma biodiversidade surpreendentemente alta, com mais de mil tipos em um único pedaço de microplástico.
As colônias encontradas incluíam plantas, algas e bactérias que fabricam seus próprios alimentos (autotróficos), animais e bactérias que se alimentam deles (heterotróficos), entre outros organismos. Essas comunidades complexas existem em pedaços de plástico pouco maiores que a cabeça de um alfinete e surgiram com a invasão dos plásticos nos oceanos nos últimos 60 anos.
Mas o que pode ser bom para os micróbios pode ser ruim para peixes, outros animais marinhos e também para os seres humanos. Isso porque a plastisfera serve como lar de um grupo de bactérias chamado vibrião, ou vibrio. Algumas espécies deste gênero podem causar doenças como a cólera, sendo muito prejudicial para os seres humanos.