Produtos plásticos jogados nos oceanos são ingeridos cada vez mais pelas espécies marinhas. Além disso, esses elementos podem ser letais, pois perfuram o intestino e bloqueiam o estômago destes animais, revela estudo australiano publicado na revista da “Conservation Biology”. Além de prejudicar os animais, o descarte impróprio desses resíduos polui as regiões litorâneas. Para evitar o acúmulo de lixo pelas praias e que essas espécies sofram, voluntários do Instituto Ecofaxina, ONG da cidade de Santos, recolhem embalagens plásticas, pneus e eletrodomésticos com a finalidade de preservar o ecossistema.
Segundo a Prefeitura local, a cidade recicla 450 toneladas de resíduos sólidos por mês. Embora o número represente o bom desempenho do serviço de coleta seletiva, muitos resíduos ainda vão parar irregularmente debaixo das palafitas da Vila Gilda, mangues e na beira do mar. O problema antigo chamou a atenção de William Schepis, biólogo que coordenou o primeiro mutirão de limpeza do Instituto, em 2008, no estuário de Santos – região de encontro entre rios e o mar – onde também se localizam os manguezais.
“Ações voluntárias não possuem somente o caráter de limpar, mas sim de conscientizar sobre a preservação do ecossistema”, William Schepis, biólogo.
De acordo com Schepis, o problema da poluição dessa região é devido à ausência de programas de gestão de resíduos nas moradias. “As palafitas não possuem sistema adequado de esgoto e coleta de resíduos. Por isso o lixo se concentra nesse local e prejudica o ecossistema”.
Quando questionado sobre medidas para a retirada dos moradores das palafitas (casas de madeira sobre a água) e para a preservação dos manguezais, que fazem parte das APPs (Área de Preservação Permanente), o secretário de Infraestrutura e Edificações de Santos, Ângelo da Costa Filho, disse que a fase 1 do macro projeto “Santos Novos Tempos” já está em andamento para solucionar o problema. Nessa parte do planejamento está prevista a entrega de 72 novos apartamentos para abrigar a comunidade de Vila Gilda até o final deste ano.
Enquanto as habitações não ficam prontas, a população convive com o acúmulo de lixo debaixo das casas de madeira. Por isso, o trabalho do mutirão de limpeza é uma das alternativas para amenizar a poluição no mangue e em outros ecossistemas.
Desde o início do programa, em 2008, foram recolhidos 25.176 mil kg de resíduos sólidos das praias, costões rochosos e ilhas. Com o auxílio de voluntários e ambientalistas, na última ação realizada em setembro foram recolhidos 564 kg de resíduos sólidos nas áreas de mangues da baixada santista. “Ações voluntárias não possuem somente o caráter de limpar, mas sim de conscientizar sobre a preservação do ecossistema”, comenta Schepis.
Projetos do Ecofaxina
Ambientalistas parceiros do projeto ministram um curso com duração de duas semanas para os voluntários com assuntos que abordam teorias sobre o ecossistema e metodologia de coleta dos resíduos sólidos. A finalidade é instruir voluntários para atuar no mercado da reciclagem.
Além da mobilização, o projeto ministra aulas de educação ambiental para crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos nas escolas públicas e até mesmo nas palafitas. A finalidade deste projeto é difundir hábitos sustentáveis e a preservação da natureza.
“Quando chegamos nas comunidades é comum encontrarmos crianças nadando na água poluída por esgoto e lixo. É nesse momento que temos a oportunidade de conversar e mostrar como a poluição marinha é ruim para os animais e para elas”, conclui William Schepis.