Há muitos anos a ciência ambiental se preocupa com a presença excessiva de dióxido de carbono no ar. Desde os anos 1950, no Havaí, cientistas estudam a quantidade de CO2 na atmosfera e em uma pesquisa recente constataram um número alarmante, na marca de 400 ppm (partes por milhão).
Este nível publicado em estudo realizado pela NOAA (Centro de Estudo Americano da Atmosfera) serve para mostrar que a quantidade de poluentes que o setor industrial emite é elevada, e que as práticas de redução não conseguiram amenizar o problema.
Rajendra Pachauri, chefe do IPCC (Painel do Clima das Nações Unidas) relata para o jornal Folha de S. Paulo que a concentração de dióxido de carbono no começo da industrialização (século XVIII) atingiu 280 ppm, número relativamente alto para a época. O pesquisador lembra que este dado traz à humanidade a realidade das mudanças climáticas e alerta que este aumento interfere gradativamente no aquecimento global.
De acordo com o pesquisador Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, este índice comprova as alterações sérias que provocamos no meio ambiente. Este estudo com procedimento equivalente a outro realizado na Antártida também já atingiu 400 ppm, resultado de que não só no Havaí, local primário da execução do estudo, consegue emplacar dado semelhante.
Uma lista divulgada durante uma negociação climática da ONU na África do Sul revelou que a China ocupa o primeiro lugar no ranking dos países que mais emitem carbono no planeta. Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão também lideram as primeiras posições, seguidos pelo Brasil, Alemanha, Irã e países da América Central. O número da produção brasileira de gás carbônico é de apenas 1.144 megatoneladas, mas seria maior se o desmatamento e as queimadas em área de floresta fossem levados em conta.
Os níveis de CO2 alcançaram esta marca em maio, mês em que geralmente o teste é efetuado. Como neste período o índice de chuvas é menor, a atmosfera abriga gases causadores do efeito estufa em excesso. Com o acúmulo do gás carbônico e metano, o clima se altera e provoca chuvas fortes e elevação de temperatura fora de época. Estes fenômenos naturais atípicos são produtos do aquecimento global.
Efeito mundial
A emissão de CO2 na atmosfera traz impacto não só no clima como também nos oceanos. De acordo com cientistas noruegueses que monitoram a composição química da água do Oceano Ártico, o gás carbônico é absorvido rapidamente pela água a tornando ácida. Mesmo que a emissão de CO2 e metano cessassem, levaria muitos anos para o oceano recuperar o nível ideal de oxigênio.
A presença deste gás aumenta o nível de acidez dos mares e compromete as cadeias de espécies marinhas e elementos do oceano. Especialistas relatam que a acidez corrói a estrutura das conchas e afeta o desenvolvimento natural das lesmas marinhas, importantes na cadeia dos alimentos no oceano. “Elas não morrem, mas se tornam vulneráveis aos predadores” diz Geraint Tarling, diretor do núcleo de pesquisas British Antarctic Survey.
A capacidade do planeta gerenciar a absorção de gás carbônico seja pelo solo, mar ou fotossíntese das plantas é de 5 bilhões de toneladas por ano. A natureza se responsabiliza pelo estágio final desses gases, porém o grande entrave está na proporção que ela consegue manter esta atividade. Só em 2008 emitiu-se mais de 7 bilhões de toneladas com a queima de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e quase dois bilhões de toneladas com os desmatamentos. O acúmulo de aproximadamente 4,4 bilhões de toneladas aumenta e agrava a situação da atmosfera que retém o calor.
Existe a necessidade de executar alternativas viáveis para estabilizar o clima numa tentativa de diminuir a emissão de poluentes, mesmo tópico que o Protocolo de Kyoto abraçou na década de 90, mas que não surtiu efeito significativo. O caminho para a redução mundial do CO2 dependerá tanto do poder público, quanto das ações sustentáveis do terceiro setor e da sociedade engajadas na conscientização de práticas ecologicamente corretas.