Há tempos as mudanças climáticas têm se intensificado, afetando as temperaturas, a qualidade do ar, o volume das geleiras, as reservas de água, a existência dos animais e das plantas e também a produtividade do solo. Em meio a um processo de desertificação que avançava em Burkina Faso, na região do Sahel (área de transição entre o deserto do Saara e as terras férteis do sul), Yacouba Sawadogo decidiu desafiar o aquecimento global e devolveu a vida ao castigado e seco solo do continente africano através de um simples procedimento.
Conhecido como “O Homem que Parou o Deserto”, Yacouba deu início ao projeto no começo da década de 80, num país que enfrenta diversos tipos de recessão desde 1930, no mínimo. Sendo assim, ele utilizou uma técnica conhecida como “zai”, que consiste em cavar pequenos buracos no chão duro e preenchê-los com adubo de fezes animais para que, durante as chuvas, as fendas retenham água e nutrientes para suportar as estações de estiagem.
“É impressionante. Ele nunca parou de tentar, é como um cientista”, assegura Dorkas Kaiser, pesquisadora ambiental. Economicamente viável e apresentando eficiência, o método empregado pelo africano tem capacidade para fazer com que “um fazendeiro duplique ou até triplique suas produções”, afirma Ali Oudregou, ministro da Agricultura de Burkina Faso. “Como especialistas, nós vimos os resultados extraordinários que a técnica produziu”, ressalta.
“Yacouba sozinho teve mais impacto no combate a desertificação do que todos os recursos nacionais e internacionais combinados”, afirma Dr. Chris Reij, da Vrije University of Amsterdam
Deste modo, Yacouba transformou uma região estéril numa floresta de aproximadamente 30 hectares, que abriga cerca de 60 espécies de árvores e aumenta com o passar de cada dia. “Inicialmente, as pessoas achavam que ele era um homem maluco”, comenta The Toogo Nabba Kougri, primeiro ministro da região de Yatenga. Entretanto, “é uma maluquice que serviu a muita gente”, brinca a autoridade da província pertencente à Burkina Faso.
Responsável pelo cultivo de milho e outros produtos provenientes da agricultura, o homem direcionou seus esforços para tornar a segurança alimentar uma realidade ao seu povoado, tendo organizado e ministrado sessões de treinos e aulas sobre a prática “zai” para vizinhos e até visitantes interessados. Considerando os feitos atribuídos ao africano, o Dr. Chris Reij, da Vrije University of Amsterdam, garante que “Yacouba sozinho teve mais impacto no combate a desertificação do que todos os recursos nacionais e internacionais combinados”.
Desenvolvedor de plantações nas mais áridas terras, Yacouba foi convidado a se apresentar para o presidente norte-americano Barack Obama, em Washington, nos Estados Unidos, contando sobre sua metodologia e seus resultados. Além disso, ele participou da Convenção sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês) e palestrou neste evento relacionado à décima Conferência das Partes (COP-10), na Coreia do Sul.
Portanto, Yacouba, protagonista de uma das raras oportunidades em que o ser humano triunfou sobre os efeitos das mudanças climáticas até agora, teve sua história reproduzida pelo documentário “The Man Who Stopped The Desert” (O Homem que Parou o Deserto, numa tradução do inglês), da 1080 Films, dirigido por Mark Dodd. Talvez, assim, mais homens sejam inspirados a lutar contra o aquecimento global.
Vídeo:
Fonte: www.1080films.co.uk/Yacoubamovie/