Os uruguaios têm fama de serem calmos e reflexivos, diferentes dos seus primos do outro lado do Rio da Plata, os porteños de Buenos Aires, mais passionais e farristas. Esse ar de calma pode se sentir claramente conforme se chega no Chui, após uma interminável estrada reta de 250 km desde Rio Grande. De repente os ventos se acalmam, as estradas mudam e as praias uruguaias começam a dominar o horizonte.
Após a absurda fronteira do Chui, o Parque Nacional de Santa Teresa nos recebe com um ar de calma, bons vinhos e uma história sanguinária. Para os amantes da acampada, do trekking, dos animais, da história ou da praia, esse parque é um diamante pouco conhecido (como tantas outras joias uruguaias).
Uma reserva natural e uma antiga fortaleza
A pesar de ser uma área militar, o parque é de livre acesso. Nele pode se acampar por uns 15 dólares ou visitar uma pequena reserva animal completamente de graça. O local é dominado pela fortaleza homônima pela qual portugueses, espanhóis, brasileiros, argentinos e uruguaios tem lutado por décadas.
Encontra-se extraordinariamente bem conservada. A vista é privilegiada. Nos dias claros pode se observar a costa brasileira e até centos de quilômetros. Uma pena que uma visão tão linda fosse apreciada apenas para finais militares durante tantos anos. Enfim, hoje evoluímos e podemos desfrutar dela em paz.
Para aqueles que preferem um pouco de ação além da paz, Punta del Diablo é seu destino. A poucos quilômetros do parque encontra-se uma das praias mais carismáticas do país.
Punta del Diablo é o oposto de Punta del Este. Enquanto essa é a capital do luxo e dos playboys argentinos e uruguaios, Punta del Diablo é uma cidade de surfistas, pescadores, pedras redondas e muitas, muitas ondas. Ela tem um toque hippie que me cativou durante três dias. Boa comida caseira, boas conversas com os gringos e com os personagens que aqui moram (que são muitos!). Se o que se procura é um lugar onde acalmar o corpo e o espírito, este é o local.
A costa da morte uruguaia
O nome de Punta del Diablo não é casualidade. São tantos os barcos que afundaram nessas praias, tantos os marinheiros que deixaram aqui suas vidas, que tiveram que instalar um farol em Cabo Polónio, uma entrada de terra isolada que avisa aos navios da periculosidade.
Cabo Polónio encontra-se numa reserva natural à qual só pode se aceder em trator ou caminhão 4×4. Sem rede elétrica nem quase infraestrutura além do farol, essa vila de pescadores espartanos ainda têm um par de pousadas simples onde pernoitar. A experiência vale muito a pena. O ritmo da noite é marcada pelas conversas, a maconha (legal desde há algumas semanas) e o passar da luz do farol. Um lugar único por enquanto, até que a guia Lonely Planet escreva sobre ele e vire mais um Disneyworld para mochileiros.