A Euterpe edulis Martius, conhecida como Palmeira Juçara é típica da região da Mata Atlântica, uma floresta que se estende do sul Baiano até o litoral do Rio Grande do Sul, muito famosa pela produção de um Palmito de alta qualidade e muito saboroso.
Devido à intensa urbanização do litoral do Brasil e a exploração do Palmito Juçara, muito cobiçado pela culinária brasileira e estrangeira, restam poucos fragmentos de Mata Atlântica, concentrados principalmente entre os estados de São Paulo e Paraná.
Á partir da década de 60 houve uma intensa exploração do Palmito Juçara, ao contrario do Palmito Pupunha encontrado na região Amazônica, a Palmeira Juçara não se regenera. Depois da retirada o Palmito, que mede aproximadamente 30 cm, a árvore com 10 metros de altura é descartada.
A exploração exacerbada do Palmito levou a espécie ao risco de extinção, influenciando em toda a cadeia alimentar que sustenta aves e mamíferos presentes no ecossistema Atlântico.
Segundo o doutor Mauro Galetti, do departamento de ecologia da UNESP em Rio Claro, premiado pelo WWF – World Wildlife Fund por sua tese que estuda o ecossistema da Mata Atlântica, 80% dor frutos presentes na região são derivados das Palmeiras Juçaras, semelhantes ao Açaí, os frutos alimentam os animais que, por sua vez, espalham as sementes da espécie fechando o ciclo ecológico. Nos locais onde a espécie foi exterminada muitos animais migraram como o Tucano e a Jacutinga.
Atualmente a extração predatória do Palmito Juçara é proibida por lei, constituindo crime ambiental, parte da Mata Atlântica restante esta inserida em parques e reservas ecológicas, porém, nem a lei ou as áreas de preservação detém os “palmiteiros”, que invadem os locais para extração ilegal do Palmito Juçara, prejudicando o ecossistema e a saúde humana.
Ameaça ao Palmito Juçara
Apesar de “protegidas” nas unidades de conservação e em áreas privadas, as Palmeiras são vítimas da ação criminosa dos palmiteiros, já que a polícia não atua nestes locais e os guardas florestais não poder suficiente para deter os agressores.
O Palmito extraído ilegalmente é levado aos acampamentos dos palmiteiros, ali são cozidos e embalados em condições precárias de higiene, o botulismo é uma das principais doenças causada pelo consumo deste palmito preparado sem os devidos cuidados e higienização.
Botulismo trata-se de uma intoxicação alimentar, causada pela bactéria Clostridium botulinum, encontrada no solo e em alimentos contaminados em condições precárias de higiene, na preparação e conservação de alimentos.
O Palmito ilegal recebe uma embalagem falsificada e depois é vendido para restaurantes e mercados, ameaçando a saúde dos consumidores.
Hoje essa atividade é ilegal e passível de punição penal, a extração do Palmito é uma pratica que traz prejuízos ao meio ambiente e ameaça a preservação da espécie, a pena para quem é pego extraindo ou transportando ilegalmente é de três meses a um ano de detenção e multa de R$ 100 a R$ 300 por cada árvore derrubada.
O Fruto da Juçara
A Palmeira Juçara produz um fruto semelhante ao Açaí da Amazônia, o fruto da Juçara, denominado Juçaí, é responsável pela alimentação de 60 espécies animais entre aves e mamíferos, com o corte da Palmeira para a extração do Palmito diminui a possibilidade de alimento para esses animais que correm o risco de serem extintos.
O Jaçaí pode ser a solução para o problema da extração ilegal do Palmito, através de programas educacionais e incentivos públicos é possível criar cooperativas comunitárias e oferecer uma nova fonte de renda para as famílias que hoje extraem o Palmito ilegalmente, com a extração da polpa do Jaçaí, um método que preserva a espécie e promove seu reflorestamento.
Valor Nutricional do Jaçaí
O fruto da Palmeira Juçara tem as mesmas propriedades nutritivas do Açaí Amazônico, sendo um pouco mais adocicado. Seu valor nutricional é superior ao Açaí em relação á alguns nutrientes como ferro, zinco e potássio, a antocianina presente no fruto que a Juçara produz é mais abundante do que no Açaí da Palmeira Real. A quantidade de açucares e gorduras também é maior, conseqüentemente seu valor energético também.
A gordura encontrada em ambos os frutos são chamadas de gorduras boas, essas gorduras são compostas por ácidos graxos insaturados que são capazes de reduzir o colesterol na corrente sanguínea.
Benefícios Econômicos do Fruto
A extração do fruto da Juçara é uma alternativa sustentável, pois, oportuniza um trabalho digno e legalmente viável para as famílias carentes das regiões de Mata Atlântica, sendo mais rentável que a exploração do Palmito. Ajuda a conservar as Palmeiras Juçaras, os próprios trabalhadores atuam na conservação das florestas, já que estas propiciam o sustento familiar e indiretamente contribui para toda a manutenção do ecossistema nativo.
Enquanto cerca de 60 cm de Palmito é vendido á R$4,00 reais uma única vez o fruto produzido por uma Palmeira pode render entre R$25 á 30 reais anuais. As árvores preservadas voltarão a produzir novamente, sendo assim uma renda continua.
A comercialização do fruto é mais viável para o homem e para a natureza, pois, evita o desmatamento e garante a preservação da biodiversidade
Preservando a Juçara
A extração e comercialização do fruto da Juçara é uma das principais medidas para salvar essa espécie da extinção e amenizar os inúmeros malefícios causados á natureza com a extração do Palmito.
Programas de conscientização e educação ambiental para o uso sustentável da natureza vêm sendo implantados pelo governo e por diversas ONGS com o objetivo de evitar o desmatamento e fazer o reflorestamento da espécie em seu habitat natural.
No Vale do Paraíba, estado de São Paulo, em meio ao Parque Serra do Mar, um projeto distribui mudas de Juçara para os proprietários rurais que as plantam em locais onde as Juçaras foram cortadas por palmiteiros. Veja a seguir.
Projeto de Repovoamento do Palmiteiro Juçara
O Projeto de Repovoamento do Palmiteiro Juçara é um exemplo de parceria entre o poder público e órgãos ambientais visando à conservação da espécie Euterpe edulis martius. Voltado para a população local do município de Rio Preto em São Paulo pretende cumprir os seguintes objetivos:
● Regeneração de áreas florestais de ocorrência do Palmito Juçara;
● Fortalecimento da cadeia produtiva em bases sustentáveis;
● Redução da atividade clandestina.
Através da capacitação e educação ambiental dos agentes locais sobre a importância da Juçara, programas de reflorestamento e incentivo á extração e comercialização do fruto o projeto, elaborado pela Fundação para a Conservação e a Produção Florestal de São Paulo, tem parceria com: o Instituto Florestal; Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica – IPEMA; Instituto Sócio Ambiental – ISA; Associação para a Cultura; Meio Ambiente e Cidadania – AKARUI; Associação Rio Preto e com a Prefeitura Municipal de Sete Barras.
Em funcionamento desde 1997 o projeto de reflorestamento da Juçara conseguiu até o ano de 2002 repovoar cerca de 36 mil mudas da espécie, equivalente á 140 hectares. Atualmente os moradores colhem os frutos que literalmente plantaram, o Juçaí virou a principal fonte de renda da população vizinha ao parque. Uma relação que anteriormente se caracterizava por conflitos, devido à extração ilegal do Palmito, se transformou em uma relação simbiótica, ou seja, mutuamente benéfica.
Palmito Pupunha
Uma alternativa para o consumo do Palmito vem de outra espécie encontrada na região Amazônica. O Palmito Pupunha, como é conhecido, deriva da espécie Bactris gasipaes Kunth, uma espécie semelhante que produz um caule segmentado que gera mais de um Palmito.
A extração manejada da Pupunha não causa a degradação da espécie, que depois de cortada, leva 2 anos para se regenerar e produzir novos Palmitos. O Palmito Pupunha é cultivado diferentemente do Palmito Juçara e do Palmito do Açaí que são derivados das atividades extrativistas.
Apesar de produzir perfilhos como o Pupunheiro, a espécie Euterpe oleracea Martius, popularmente conhecida como Açaizeiro por produzir o Açaí, não é a melhor solução em substituição ao Palmito Juçara, mesmo que seja possível seu manejo sustentável, porém, é o mais consumido no Brasil pelo preço mais acessível.
Enfim, no final de todo o processo cabem aos consumidores decidirem qual será a procedência do Palmito: o que agride a natureza, o Palmito barato das atividades extrativistas, ou o Palmito devidamente cultivado e certificado.
Contudo pesquisas de 2011, feitas pela empresa Nielsen, mostram um crescimento de 46% do Palmito Pupunha, que alcançou 24% do mercado nacional, enquanto o Palmito de Açaí teve redução de 8,7%, detendo ainda mais de 70% do consumo nacional.