Estudo detectou perda na estrutura corporal de 77 espécies.
No mês passado, a revista Science publicou um estudo mostrando que as mudanças climáticas já interferem no corpo de 77 espécies de aves. O que é bem assustador, já que as aves tropicais são eficientes indicadores de mudanças no meio ambiente. De acordo com o trabalho, resultado de um monitoramento realizado nas últimas quatro décadas, as aves da região Amazônica estão sofrendo mutações devido ao desequilíbrio ambiental.
Vitek Jirinec, principal autor do estudo afirma que “as descobertas mostram que a mudança climática causada pelo homem e, portanto, o estilo de vida individual das pessoas ao redor do mundo, se manifesta em algo tão fundamental como o tamanho do corpo e a forma dos pássaros na Amazônia intocada. Esses resultados ressaltam a parte global na mudança climática”.
O estudo aponta que até mesmo as áreas da Amazônia onde o humano ainda não chegou, já estão sendo impactadas pelas mudanças climáticas. Segundo os cientistas, as condições mais quentes e secas estão diminuindo o tamanho do corpo de pássaros da floresta tropical, ao mesmo tempo em que aumentam a envergadura de suas asas. Acredita-se que isso seja uma resposta aos desafios nutricionais e fisiológicos, especialmente durante a estação seca, que acontece entre junho e novembro.
As mudanças
Ao longo de 40 anos de trabalho de campo, Jurinic e seus colegas analisaram dados de mais de 15 mil aves. Pela comparação dos dados, eles constataram que quase todas elas ficaram mais leves a partir dos anos 1980. Observaram ainda que a maioria das espécies perdeu, em média, 2% de peso corporal a cada década, o que significa que um tipo de ave que pesava 30 gramas há 40 anos, agora tem, em média, 27,6 gramas.
O estudo assinala que os dados não correspondem a um lugar específico da floresta tropical. As informações, ressaltam os especialistas, foram recolhidas em uma grande variedade de áreas da Amazônia, o que significa que o fenômeno pôde ser verificado globalmente. No total, os cientistas investigaram 77 espécies cujos habitats vão desde o chão escuro e úmido da floresta até a camada intermediária de vegetação, que recebe maior incidência de luz.
De acordo com o levantamento, os pássaros das camadas elevadas, que voam mais e estão sujeitos a uma maior exposição ao calor, registraram as principais mudanças relacionadas ao peso corporal e à envergadura. As mudanças climáticas impõem aos pássaros da América do Sul os maiores riscos de extinção. Eles precisam se adaptar rápido ou podem acabar vendo seu bando decrescer. Outra pesquisa já atribuía às mudanças climáticas a diminuição da população de diversas espécies de aves.
Os autores dos estudos consideram ser provável que esse fenômeno não esteja ocorrendo apenas com as aves da Amazônia. Fica o alerta para que a quantidade de espécies não aumente.
Fontes: Science | Mongabay | Correio Braziliense