Os números do desmatamento do Cerrado brasileiro, localizado no centro do país, são alarmantes: chega a três milhões de hectares ao ano, o que corresponde a mais de dois campos de futebol por minuto. Segundo informações do Programa Cerrado da Conservação Internacional (CI), de toda a vegetação original, hoje resta apenas cerca de 20% dos biomas nativos, que podem desaparecer até 2030 se nada for feito para acabar com a sua devastação.
A fauna e flora do Cerrado o elevam ao segundo maior e mais rico bioma brasileiro, por fazer fronteira com outros importantes biomas como a Amazônia, Caatinga, Pantanal e Mata Atlântica.
As árvores da região são fonte de energia para diversas empresas de siderurgia, e estima-se que aproximadamente mil caminhões de carvão sejam abastecidos diariamente para venda em todo o Brasil. A preferência das empresas pelas espécies de árvore do cerrado é devido ao seu baixo custo, porque elas demoram mais para queimar e a madeira é mais dura. Entretanto a mão de obra utilizada nas carvoarias também tem um baixíssimo custo devido à desqualificação profissional, tornando o produto mais atrativo no mercado nacional.
O processo das carvoarias contribui de maneira significativa para o efeito estufa com grande e contínua emissão de gases poluentes. Apesar de poderem utilizar-se de carvão vegetal como fonte de energia, esta atividade acaba sendo extremamente danosa ao ambiente.
Além da devastação do cerrado pela produção de carvão, outros fatores impactantes são a preferência pela agropecuária extensiva; pela transformação local em pastagens; o aumento das áreas urbanas e de mineração; plantações de soja direcionada ao mercado externo; bem como o cultivo da cana-de-açúcar para a fabricação de etanol, algodão e eucaliptos para a celulose. Segundo estudos sobre este último, em 2010 a área plantada de pinos e eucalipto no Brasil correspondia a mais de 6,5 milhões de hectares – o equivalente às áreas dos estados do Rio de Janeiro e Sergipe somadas. Devido ao seu rápido crescimento, curto ciclo e elevada densidade de plantio, há um grande consumo de água nessas regiões, o que afeta negativamente a qualidade do solo e a biodiversidade local.
A vegetação do cerrado é adaptada a pouca umidade devido a longos anos de um clima seco que a região enfrentou, e essa adaptação pode ser observada nas árvores com cascas grossas e plantas rasteiras. O terreno em geral é plano e galhos e folhagens funcionam como uma esponja, retendo a umidade, alimentando o lençol freático e as plantas durante a estiagem. Com a sua retirada há desvio no circuito da água, que deixa de ser vertical para se tornar horizontal, causando erosão e assoreamento de córregos e rios.