Incêndios conseguem reverter a característica atual do bioma para cerrado?! É difícil acreditar nesta afirmação contraditória, mas para o grupo de cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e do Centro de Pesquisa Woods Hole, de Massachussets (EUA), o fato faz sentido. O grupo realizou queimadas artificiais na cidade de Querência (Mato Grosso) e constataram que a floresta de transição amazônica pode ser transformada em savana quando ocorrer eventos de extrema seca e queimadas.
O estudo publicado na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) foi realizado durante 10 anos nas fazendas do Grupo Maggi. Os cientistas tiveram acesso a três terrenos de 50 hectares cada um e trataram todos eles de maneiras distintas. O objetivo do estudo foi analisar como as condições climáticas, o aquecimento global e os incêndios afetam a floresta.
No terreno 1 foram realizadas queimadas ao longo de todo o ano. No terreno 2 os incêndios artificiais foram provocados a cada três anos. Já no terceiro, não houve queimadas. A conclusão do estudo foi que o segundo terreno foi o mais degradado do que o terreno um, pois possuía mais madeira para queimar durante o período mais seco.
Paulo Brando, cientista do Ipam, explicou que o fogo potencializado por um evento de seca ocorrido novamente em 2010, abria e limpava a mata expandindo o espaço para as novas sementes e gramíneas, e o território que era a Amazônia ficou semelhante a uma savana.
Estudo indica processo de ‘savarização’ de florestas
Um relatório coordenado por Peter Cox, da Universidade de Exeter, em 2013, reuniu 22 experimentos que simulavam de que forma a floresta responderia à seca. Apenas um deles indicou que poderia ocorrer a ‘savarização’, termo científico para designar o processo de transformação de uma região úmida e com vasta vegetação em área seca (cerrado). Esta foi uma das razões que projetaram risco elevado para as florestas diante também do aquecimento global.
Cox também já visitou os experimentos de Querência e constatou que as experiências podem de certa forma superestimar a resistência das florestas a estes eventos, ou seja, afirmar que incêndios podem ser controlados não representa que exista controle da situação, nem que a prática seja viável. Além disso, o especialista opinou sobre um método frequente que ocorre nas áreas agrícolas: queimar o solo para prepará-lo ao novo cultivo. Este processo, segundo Cox, é preocupante, pois os agricultores podem perder o domínio da direção das chamas.