O retorno à condição original da natureza é uma estratégia de conservação conhecida pelo termo inglês rewilding. A estratégia utiliza a reintrodução de animais e plantas e outros processos naturais para restaurar interações entre espécies em ambientes onde eles não mais existem. Apesar de método controverso de conservação ambiental, os programas de rewilding estão em alta no mundo todo, em particular na Europa e na América do Norte.
Referência nesse tipo de conservação é a organização Rewilding Europe que tem como estratégia focar na recuperação da megafauna selvagem europeia, de modo natural ou com reintroduções. Os principais animais utilizados nessa estratégia são: o bisão europeu; as raças de cavalos semisselvagens como Konik, Garrano, Karakachan; o gado similar ao extinto auroque – recriados a partir de engenharia genética como o Heck e o Taurus, e o veado vermelho. Os grandes carnívoros utilizados pelo projeto são ursos, lobos, linces e chacais.
O termo rewilding poderia ser traduzido como renaturalização, recuperação das condições originais, baseado na compreensão de que o ecossistema só funciona bem quando é sustentado por todas as suas partes. Parte do princípio de que tudo está conectado. Se um predador na cadeia alimentar está ausente, por exemplo, os herbívoros aumentam e pressionam as plantas, que desaparecem.
Tudo começou em 1995 com a reintrodução do lobo no Parque Yellowstone nos Estados Unidos, 70 anos após sua extinção na região. Antes dos lobos havia um grande número de cervos e alces que, apesar dos esforços humanos em controlá-los, continuavam aumentando em número, provocando a redução da vegetação e a possibilidade de pastoreio, dificultando a coexistência com outras espécies. Com a reintrodução do predador, pouco a pouco a região avançou para uma situação de equilíbrio com a diminuição de grande parte das manadas de cervos, alces e coiotes, e a regeneração da vegetação e crescimento dos arbustos dando mais frutos.
O Parque Yellowstone voltou a ter árvores alta e as partes desnudas dos vales se converteram em florestas de álamos e salgueiros, atraindo pássaros canoros e aves migratórias, castores e outras espécies. Logo, as represas construídas pelos castores permitiram forjar novos habitats para lontras, patos, peixes, anfíbios e répteis. A presença dos lobos também reduziu o número de coiotes e, consequentemente aumentaram os coelhos que por sua vez favoreceram o crescimento de doninhas, raposas e águias.
A cadeia alimentar continuou com os corvos e águias calvas se alimentando das carcaças deixadas pelos lobos; também os ursos delas se alimentavam aumentando sua população e facilitando a regeneração de arbustos. Foi observado, ao longo dos anos um aumento na população dos ursos que passaram de 139 exemplares em 1975 para 600 em 2007, fortalecendo a teoria de que os lobos salvaram da extinção esta espécie.
Este experimento de reintrodução de um predador de topo de cadeia alimentar, trouxe importante lição, de que a relação entre predadores e o equilíbrio de um ecossistema é interdependente e mais complicada do que se acreditava. Pois de fato a reintrodução dos lobos contribuiu na redução da erosão das margens dos rios, na recuperação da mata ciliar e para o fortalecimento do solo. Pode-se afirmar que bastou um predador para que o ecossistema de uma gigantesca área verde recuperasse sua força e vitalidade.
Depois dessa experiência exitosa com os lobos em Yellowstone, movimentos e gestores ambientais começaram a reintroduzir espécies desaparecidas em áreas despovoadas, principalmente nos Estados Unidos e Europa.
O rewilding difere do método de restauração tradicional focado na recuperação de comunidades de plantas. O rewinding prioriza os animais, particularmente carnívoros e herbívoros da megafauna. Além disso, a restauração visa devolver um ecossistema a uma condição histórica anterior; enquanto que o rewilding é voltado para o futuro e não para o passado. Examina o passado não tanto para recriá-lo, mas como aprendizado para ativar e manter processos naturais que são cruciais para a conservação da biodiversidade.
O rewilding faz uso de uma variedade de técnicas para restabelecer esses processos naturais. Além do método conhecido de reintrodução de animais em áreas onde as populações diminuíram drasticamente ou até mesmo se extinguiram, também são empregados alguns métodos controversos como a restauração das características selvagens em espécies domesticadas; substituição de espécies extintas por similares que desempenham as mesmas funções dentro de um ecossistema e até trazer espécies extintas de volta à vida, usando biotecnologia avançada como a clonagem e a engenharia genética.
Graças aos projetos de rewilding na Europa os bisões voltaram a habitar a Holanda e a Romênia, os castores no Reino Unido e manadas de cavalos que vivem livremente em vários países europeus. Na Bulgária cavalos da raça Konik, descendentes mais próximos da Tarpan – o extinto cavalo selvagem europeu -, correm livremente e se alimentando do que encontram e são caçados por lobos que habitam a região.
Na América do Sul o principal projeto de Rewilding da região está em curso na Argentina. Ocorre no maior parque natural desse país, o Iberá, e tem como principal objetivo atual a criação de uma geração de onças pintadas que possam ser liberadas em seu habitat natural e sobreviver de forma independente. Em 2018 nasceram dois filhotes no Parque. O projeto já recuperou outras espécies que se reproduzem no local como o tamanduá-bandeira, o cervo dos pampas, a anta e o cateto.