Próximo de completar dois anos da tragédia que extinguiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), o impacto do rompimento da barragem do Fundão continua a apresentar consequências. Fora o estrago causado para a fauna, flora e, principalmente, para os moradores locais, os rejeitos de mineração têm preocupado também outras regiões, que têm sido contaminadas com todo lamaçal recorrente do episódio.
O primeiro relatório conclusivo sobre o caso foi feito pelo oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), pelo físico Heitor Evangelhista, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e o geólogo Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O documento foi apresentado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no último dia 21, e evidenciou os danos do rompimento da barragem à zona marinha. Ao todo, a equipe realizou três expedições de avaliação dos impactos da lama na região da foz do Rio Doce.
Em nota oficial, o ICMBio explicou que a observação sobre todo este volume de rejeitos tem grande importância no monitoramento da zona costeira e marinha do Espírito Santo e sul da Bahia. Isto porque o fluxo de lama, que se concentra no fundo do mar, continua a seguir em direção ao norte do litoral e pode ser considerado uma grande ameaça à saúde do banco de Abrolhos, a maior formação de recifes de coral do Atlântico Sul.
Responsável por acompanhar de perto as medidas de proteção à biodiversidade em relação ao desastre, o instituto vai repassar os dados aos demais membros do comitê interinstitucional, para que novas ações possam ser tomadas para manutenção do problema existente.
“Vamos mobilizar todos os parceiros para aprofundar esse trabalho”, afirmou o diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, Marcelo Marcelino.
Os pesquisadores alertaram ainda que, entre a primeira e a terceira expedição de avaliação, foi constatada uma redução considerável da presença de fitoplânctons, zooplânctons, ictioplânctons e bentos nas amostras de água e do substrato (matéria) do fundo do mar. Em outras palavras, a ausência desses organismos pode comprometer o equilíbrio de todo ecossistema marinho da região.
A equipe recomendou que seja feita uma grande manutenção no monitoramento dessa região afetada pelos rejeitos, visando a adição de medidas de avaliação mais precisas. Desta forma, será possível obter um maior controle da evolução do processo de contaminação e medir o nível do impacto causado ao meio ambiente.