Uma das fontes mais primitivas de alimento para homens e animais carnívoros, a pesca, quando feita de maneira predatória, causa um verdadeiro colapso nos estoques mundiais. Peixes de inúmeras espécies já não conseguem se reproduzir com a mesma velocidade que os cardumes são retirados do mar, gerando um grave déficit nas populações.
De acordo com matéria publicada na Superinteressante, estima-se que 30 milhões de pescados são retirados dos mares por ano para consumo. A partir dos anos 50 a tecnologia para a captura de peixes aumentou muito, por conta do uso de barcos que eram capazes de localizar cardumes e equipamentos que ultrapassavam as varas de pesca. Em alguns lugares ainda é comum a utilização de redes, o que impossibilita a fuga dos animais e dizima cardumes inteiros.
Segundo a organização Save the Seas, dos anos 50 até hoje, 90% dos estoques comerciais já foram prejudicados por esse modelo de pesca predatório. Peixes como o atum, um dos mais consumidos em todo o mundo, têm cerca de 60% de seus estoques mundiais esgotados , de acordo com relatório da FAO de 2011. Apenas 5% desses estoques parecem estar subaproveitados.
A população de tubarões também tem reduzido de maneira alarmante. Estima-se que existam apenas 10% da população em comparação com os anos 70. O mercado asiático é muito aquecido com a utilização das barbatanas desses animais e, por isso, mais de 70 milhões de tubarões são mortos todo ano. Mesmo em regiões em que a pesca de tubarão é proibida o mercado existe de forma ilegal.
A indústria da pesca é essencial para países como China, Chile, Japão e Peru. No Brasil e em países como a Indonésia a prática é fonte de renda para famílias carentes e, mesmo aqueles que pescam de forma consciente e respeitando os ciclos naturais, são prejudicados pela extinção de espécies e superpopulação de outras, já que toda a cadeia sofre interferências no processo.
Situação do Brasil
O professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, Tito Lotufo, explica em entrevista ao site Brasil 247 que a situação do Brasil não é melhor do que a do resto do mundo. “Muitos estoques já entraram em colapso e os grandes predadores, essenciais ao funcionamento dos ecossistemas marinhos, são os que estão em situação mais crítica.”
As políticas brasileiras também não têm contribuído para um projeto em longo prazo de preservação pesqueira. O Ministério do Meio Ambiente contabiliza 19 espécies de peixes marinhos ameaçadas de extinção e 32 espécies em fase ou ameaçadas de sobre-exploração em nosso país. Em 2003 foi criado o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), mas se ele futuramente for diluído ou não receber investimentos, sempre será um apêndice político com pouca ação eficaz no controle e regulamentação da pesca.
Como reverter o problema
É urgente que o mundo todo se comprometa na regulamentação da pesca e estabeleça períodos de resguardo para que cardumes tenham condições de se reproduzir antes de serem capturados. No Brasil, nos períodos de piracema, é proibido pescar e vender peixes que estão em fase de reprodução, por exemplo.
Além desse tipo de regulamentação é preciso haver forte fiscalização e punição para quem não cumpre as regras. Peixes mais raros e valorizados no mercado são almejados de maneira especial e sobre eles é preciso ter ainda mais atenção.
Proteção e fiscalização são a chave para enfrentarmos o problema. É urgente que políticas públicas ajam nesse sentido para que no futuro não precisemos nos deparar com uma verdadeira tragédia ambiental, o que traria ainda mais escassez dessa importante fonte de alimentos para tantas populações.