A sobrevivência das abelhas — importantes insetos para o ecossistema — está ameaçada por agrotóxico utilizado na lavoura de soja, à base de fipronil.
Na Europa, o fipronil é proibido há mais de uma década. No Brasil, levantamento feito com associações de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades apontou que, nos últimos três meses, em quatro estados, mais de 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas por apicultores, em razão do produto. Foram 400 milhões no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45 milhões em Mato Grosso do Sul.
O cenário é preocupante. O físico Albert Einstein dizia que, se todas as abelhas do mundo desaparecessem do planeta, a humanidade só teria mais quatro anos de vida. “Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana”, ressaltava.
Em território brasileiro, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização das abelhas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem desses insetos.
Por aqui, há mais de 300 espécies de abelhas nativas — entre elas Melipona scutellaris, Melipona quadrifasciata, Melipona fasciculata, Melipona rufiventris, Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula. Em todo país, contando com as estrangeiras, há cerca de 1,6 mil espécies do inseto, de acordo com relatório do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A substância
O fipronil é um inseticida muito utilizado por ter amplo espectro, controlando várias pragas ao mesmo tempo. Contra seres humanos e animais de sangue quente o produto é seguro, tanto que também é ingrediente de inseticidas de uso doméstico.
A substância atua nas células nervosas dos insetos. Quando aplicado em pulverização aérea, as abelhas ficam diretamente expostas a ele e o produto mata por contato e ingestão. Qualquer outro inseto que encoste nessa abelha morre também.
Sociedade organizada
As abelhas vivem em sociedades organizadas dentro da colmeia, divididas em castas — rainha, operárias e zangões.
A primeira é a única fêmea fértil e coloca cerca de 2,5 mil por dia. Os zangões são os machos e têm como papel fecundar a rainha.
Já as operárias são as fêmeas que desempenham quase todas as funções dentro da colmeia, como limpeza, coleta de néctar e pólen, alimentação das larvas (abelhas não adultas), elaboração do mel e defesa do lar.
Uma única colmeia pode abrigar até 100 mil abelhas. A forma mais comum de morte dos polinizadores por contato com os agrotóxicos é quando a operária sai para a polinização. Muitas abelhas acabam morrendo na hora, outras ficam desorientadas e tentam voltar para a colmeia, mas muitas não resistem ao caminho. As que conseguem voltar infectam todo o enxame, que acaba morrendo em pouco mais de um dia.
O que pode ser feito
Para especialistas, o cenário ocorre por muitos agricultores utilizarem o agrotóxico de modo errado, aplicando o fipronil juntamente com dessecantes para economizar diesel e mão de obra. O correto seria aplicar os dois produtos separadamente, para que não haja fipronil nas lavouras quando as abelhas forem atrás das flores. As mortes em massa podem ainda ser atribuídas ao fato de eles acreditarem que as abelhas prejudicam a lavoura e, por isso, passam o pesticida.
A Lei Federal 7.802/89 (Lei dos Agrotóxicos) prevê que a fiscalização do uso desses produtos é de competência dos órgãos estaduais. No entanto, problemas provocados pelo uso desses agentes e denúncias devem ser informados às secretarias de Meio Ambiente ou de Agricultura estaduais ou municipais. É aconselhado aos apicultores também informar a Polícia Militar Ambiental.