A guerra entre Rússia e Ucrânia é considerada um dos maiores conflitos militares na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, causando efeitos no mundo todo e mais de 2,3 milhões de refugiados nos seus primeiros 15 dias.
No entanto, além dos impactos socioeconômicos amplamente abordados pela mídia, é comum que guerras também causem sérios efeitos no meio ambiente e na biodiversidade, que muitas vezes são negligenciados. É sobre isso que iremos tratar neste artigo.
Funcionamento militar requer a utilização de recursos naturais
O impacto ambiental das guerras ocorre antes mesmo delas se iniciarem, pois, para construir e sustentar forças militares, é necessário consumir uma grande quantidade de recursos como metais, água e hidrocarbonetos.
Outro ponto é a infraestrutura militar (de edifícios a veículos, como aeronaves, carros e barcos) que necessita de grandes quantidades de energia para funcionar e que, na maioria das vezes, é gerada a partir da queima de combustíveis fósseis, contribuindo para as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Na guerra, o meio ambiente e os recursos naturais são principais alvos
Guerras tendem a causar grandes impactos no meio ambiente enquanto ocorrem, pois colapsam as estruturas da sociedade, limitando o acesso à recursos, além de paralisarem sistemas de gestão ambiental.
O deslocamento em grande escala de veículos – como tanques, blindados e aeronaves – em paisagens ambientalmente frágeis afeta a biodiversidade local. Também lança poluição, estilhaços, elementos químicos poluentes e enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera.
Em Chernobyl, na Ucrânia, a passagem recente de pessoas e veículos militares fez com que a poeira radioativa, que até então estava sedimentada no solo, fosse liberada no ar gerando um pico de radiação 20 vezes maior que o habitual. Em 1986, o local ficou famoso por registrar o maior acidente nuclear da história, após explosão de um dos reatores da sua usina de energia.
Além disso, o uso de armas explosivas cria grandes quantidades de detrito e entulho, que poluem o ar e o solo. Dependendo do local, esses materiais têm potencial de poluir também fontes de água com metais e materiais tóxicos ou radioativos.
A utilização de componentes químicos também cria uma série de riscos para a biodiversidade local. Exemplo disso ocorreu na Guerra do Vietnã, entre 1961 e 1971, quando militares norte-americanos despejaram em amplas faixas do território sul do país um composto chamado de “Agente Laranja”, feito de herbicidas e desfolhantes para destruir as florestas locais, dificultando a ação das guerrilhas vietnamitas.
Também é tática comum de guerra atacar instalações energéticas, industriais e petrolíferas, como forma de espalhar o terror por meio da destruição, desabastecimento e poluição. Esse tipo de ataque afeta não só a população, que fica aterrorizada e desabastecida de recursos essenciais, como também reverbera em sistemas ambientais como o de tratamento de água.
Exemplo disso ocorreu quando a Rússia atacou a maior central nuclear da Europa: a usina de Zaporizhzhya. O bombardeio felizmente não atingiu nenhum dos reatores, mas chamou a atenção de toda comunidade internacional quanto ao risco de um acidente envolvendo radiação, contaminando a região por tempo indeterminado e pondo em risco todo o continente europeu, assim como ocorreu em Chernobyl.
Outro problema é a utilização de táticas como a destruição de infraestruturas agrícolas como canais, poços, bombas, além da queima de colheita, visando ameaçar a segurança alimentar e os meios de subsistência, aumentando a vulnerabilidade das comunidades rurais. Esses incidentes de poluição em larga escala podem levar a impactos que vão além das fronteiras do país atacado, poluindo o ar, contaminando rios e aquíferos.
Por fim, é importante destacar que guerras tendem a colapsar estratégias de governança ambiental, abrindo espaço para que recursos sejam explorados de forma descontrolada. Exemplo disso ocorreu no Afeganistão, que após décadas de conflito, teve áreas desflorestadas em até 95%, tornando a população local mais vulnerável a desastres naturais como enchentes e deslizamentos de terra.
Diplomacia é o melhor caminho
Considerando os impactos negativos que a guerra causa no meio ambiente e cenário socioeconômico mundial, é importante que as nações sempre priorizem a diplomacia e o diálogo para evitar novos conflitos. Só assim conseguiremos preservar a dignidade humana e o meio ambiente, uma vez que as consequências de um conflito têm potencial de ultrapassar fronteiras, afetando todo o planeta.
Fontes: Diplomatique | O Eco | CEOBS