A convite do Aquapolo, o Pensamento Verde visitou o Instituto Baccarelli e acompanhou de perto o trabalho realizado por esta instituição, que é referência entre as organizações não governamentais do Brasil
As vielas e becos estreitos de Heliópolis ainda lembram muito a favela que foi um dia. Lá não há teatros ou museus, mas, a poucos metros dessas estreitas passagens, encontra-se um dos maiores institutos de música clássica do País, que oferece formação musical gratuita e de excelência para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
Visitamos o prédio de cinco andares, localizado na Estrada das Lágrimas, e pudemos acompanhar de perto uma tarde de ensaios com os grupos de coral e de aulas coletivas de instrumentos. É praticamente impossível não se impressionar com a organização e disciplina, principalmente dos pequeninos.
Com mais de duas décadas de história, o Instituto Baccarelli formou muitos cidadãos: alguns seguiram a carreira como músicos, e hoje se apresentam em grandes orquestras do Brasil e do mundo, já outros não escolheram a carreira artística, mas certamente levaram para as suas vidas os conceitos de disciplina e autoconfiança, além de outros benefícios que o contato com a música é capaz de proporcionar.
E por acreditar que a música é um poderoso instrumento de transformação social, o Instituto Baccarelli continua abrindo cada vez mais espaço para os jovens. Atualmente são cerca de 1300 alunos, que têm à sua disposição uma estrutura de ponta e professores qualificados: tudo para que esta experiência possa, de fato, fazer toda a diferença em suas vidas.
Tudo começou a partir de um incêndio
Em 1996 um incêndio de grandes proporções atingiu a então favela de Heliópolis. Muitas pessoas perderam o pouco que tinham, além disso, adultos e crianças morreram. Vendo aquela situação pela TV, o maestro Silvio Baccarelli sentiu que deveria fazer algo que pudesse trazer um pouco de consolo para aquelas pessoas. E como a única maneira que ele tinha para ajudar era a música, foi este o recurso que ele usou para tentar minimizar o sofrimento das famílias atingidas e contribuir para a autoestima e possibilidade de educação dessas crianças e jovens.
O desafio era grande e mesmo sabendo de todas as dificuldades que poderiam vir pela frente, meses após o desastre Silvio fundou uma oficina de música com 36 crianças de Heliópolis em seu espaço, na Vila Clementino. Após a aprovação de um projeto na Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), em 2005 as aulas foram transferidas para a comunidade de Heliópolis, ocupando a edificação de uma antiga fábrica de sucos. O projeto cresceu tanto que já não cabia mais na antiga fábrica. Então, em 2009, foi construída a sua própria sede, um prédio com cinco andares e 2,8 mil m².
Em 2010 a Orquestra Sinfônica Heliópolis realizou a primeira turnê pela Europa, passando pela Inglaterra, Alemanha e Holanda. Os jovens músicos tiveram a oportunidade de tocar em importantes palcos, como a Philharmonie, no Gasteig em Munique (Alemanha), St. John’s Smith Square (Inglaterra), Muziekgebouw (Holanda), além do festival internacional Beethovenfest (Alemanha).
Depois disso vieram muitas outras participações importantes, mas para que este trabalho continue crescendo e se destacando, o Instituto ainda busca recursos para a finalização da terceira etapa do projeto: a construção da sala de concertos com capacidade para 600 pessoas. Com a implantação dessa última etapa, o complexo irá ocupar 6.000 m² de área útil e terá capacidade para atender cerca de 2.800 alunos por ano. Para saber como ajudar, é só acessar o site do Instituto.