O enxague de potes de iogurte, caixas de leite e latas vazias de alimentos antes do seu descarte tem causado dúvidas. Alguns especialistas alertam que a prática de limpeza desses materiais pode contribuir com o desperdício de água, pois de qualquer forma os objetos passarão por lavagem nas centrais recicladoras. Diante deste cenário de incertezas, afinal, é certo ou errado limpar estas embalagens em casa?
É comum cooperativas de reciclagem direcionarem a demanda de resíduos consideradas em bom estado até os tanques com água de reuso. Lá as maiores impurezas e dejetos são extraídos dos objetos e os deixam prontos para serem triturados, fundidos e/ou servirem de matéria-prima para a produção de outros objetos. Para se ter uma ideia, latas de alumínio são fundidas a 700°C em média, plásticos de 200°C a 300°C – obrigatoriamente após o enxágue –, aço a quase 200°C e vidro até 1000°C. Se eles serão lavados e derretidos, existiria a necessidade de gastar mais água em casa na lavagem?
Enxaguar sugere desperdício de água
Para Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), “em qualquer processo de reciclagem, o resíduo será submetido a um processo de higienização. Não há necessidade de uma lavagem aprofundada do material”. Além disso, Carlos ressalta que lavar os objetos requer grandes quantidades de recursos hídricos e ocasionalmente, gera maior quantidade de esgoto.
Para o engenheiro Ambiental Sandro Mancini, especialista em reciclagem de resíduos sólidos e professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp), “não existe resposta pronta, nem fácil”. O especialista alerta que lavar as embalagens não facilita a reciclagem desses materiais, porque eles serão derretidos a altíssimas temperaturas.
No entanto, deixar de enxaguar os frascos vazios pode dificultar o processo de reciclagem das centrais. De acordo com Eduardo Bernhardt, consultor ambiental da Recicloteca, Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente, em entrevista para o Pensamento Verde, “a reciclagem é muito diversa Brasil afora. Há centrais que tomam todos os cuidados e em outros não. Alguns materiais recicláveis podem levar semanas até chegarem a um reciclador. Nesse meio tempo, muitos lugares serão depósito deste material e podem tornar-se foco de animais vetores de doenças, fortes odores, etc.”.
Além disso, se os objetos estiverem sujos, pode atrapalhar o método de tratamento dos resíduos. “A reciclagem fica mais cara e lenta, pois todos os equipamentos que transportam e fazem o pré-beneficiamento do material (prensagem e trituração, por exemplo) terão que ser lavados periodicamente”, explica Bernhardt.
E como fica a questão dos perigos de contaminação derivados das embalagens sujas? “Por enquanto não há solução mágica para esse impasse”, reconhece o Mancini. A alternativa apresentada pelos especialistas é vedar adequadamente o cesto de lixo. Dessa forma impede-se que a entrada de moscas, ratos e insetos no lixo contaminem o ambiente e proliferem bactérias e outras doenças.
Frascos que não precisam ser lavados
Embalagens que armazenam alguma quantidade de resíduos como, por exemplo, caixa de leite, latas de doce, cremes e geleias, precisam de limpeza prévia antes de serem encaminhados para a coleta seletiva. No entanto, alguns frascos não precisam ser lavados e dessa forma, a população pode poupar água. De acordo com lista divulgada pela Recicloteca, embalagens de limpeza doméstica, como desinfetantes, água sanitária, cloro, xampus e sabonetes líquidos e sacos de grãos (arroz, feijão, lentilha, etc.) não precisam ser lavados.
Segundo André Vilhena, porta voz da CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), também em entrevista ao portal, “o enxágue é inevitável e vai precisar de bom senso por parte das pessoas. Somente usar água que já foi usada para lavar a louça, por exemplo, é fundamental nesta prática”.