Arte e lixo juntos, embora sejam aparentemente contrastantes, ao longo de dois anos o artista plástico Vik Muniz conseguiu reunir essas duas vertentes. O trabalho realizado entre 2007 e 2009 consistia em retratar a vida dos catadores em um dos maiores aterros sanitários do mundo – o Jardim Gramacho, localizado em Duque de Caxias, na periferia do Rio de Janeiro.
O artista fotografava os protagonistas e, depois, com o próprio lixo reciclável, transformava a imagem em uma obra extraordinária, num cenário que, para muitos, poderia ser desesperançoso. Toda a trajetória desse trabalho tornou-se um documentário produzido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, que ganhou prêmios de público nos festivais de Sundance e Berlim em 2010, e chegou a ser indicado ao Oscar em 2011.
O documentário mostra a vida difícil dos catadores que dependem do lixo para sobreviver e também chama a atenção para os problemas sociais, ambientais e das condições de trabalho. Dentre os retratos, há um líder da comunidade semeando no aterro, Sebastião Carlos dos Santos (conhecido como Tião) encenando a morte do pensador Marat, e uma catadora posando com seus filhos num quadro que remete a uma santa.
Durante a produção das obras, o trabalho do artista acabou ganhando outra dimensão devido à aproximação dele com os catadores. Eram cerca de 2 mil pessoas responsáveis pelo sustento de pelo menos 3 mil. Vik Muniz produziu seis quadros, sendo que um deles, com a imagem de Tião, foi vendido em um leilão em Londres por R$ 74 mil. Toda a renda foi revertida para a Associação de Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho.